“Não pode existir uma democracia para a Europa e outra para Moçambique”

Renamo convoca “manifestação pacífica” de protesto e pede à comunidade internacional que tome posição sobre a “megafraude” eleitoral em Moçambique. Frelimo só perde na cidade da Beira.

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Ossufo Momade, o presidente da Renamo defende que o seu partido ganhou as eleições autárquicas de 11 de Outubro HANDOUT EDITORIAL USE ONLY/LUSA

A Renamo convocou manifestações de protesto contra aquilo a que chamou de “megafraude” nas eleições autárquicas em Moçambique de 11 de Outubro. A partir de terça-feira, Ossufo Momade quer ver os seus apoiantes na rua numa marcha “pacífica” a nível nacional contra os resultados oficiais. Pelas contas já conhecidas das Comissões de Eleições Distritais, a Frelimo venceu em 45 das 46 autarquias (há 65 em disputa, mas tudo aponta para que ao partido no poder lhe seja atribuída a vitória em 64 delas). Só a cidade da Beira resistiu à vaga da Frelimo e continuará nas mãos do MDM.

O líder da Renamo garantiu este domingo, numa conferência de imprensa citada pela Lusa, que o que pretende “é uma manifestação nacional, não é uma guerra” porque os moçambicanos “estão cansados da guerra”. E pediu à comunidade internacional que não fique calada.

“Queremos que a comunidade internacional apareça a dizer algo sobre o comportamento do partido Frelimo. Não pode existir uma democracia para a Europa e outra para Moçambique”, afirmou, garantindo ainda que a Renamo vai “interpor recursos junto das instituições competentes” contra os resultados anunciados.

O partido convocou “todos os moçambicanos” para uma manifestação geral “em repúdio a qualquer manipulação de resultados, a partir do dia 17 de Outubro”, tendo esta sido uma das medidas saídas da reunião da Comissão Política Nacional da Renamo realizada na tarde de domingo.

Há 48 anos no poder, com todos os governos provinciais nas suas mãos, a Frelimo prepara-se para liderar também todas as autarquias do país, com a excepção da Beira, onde o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) terá mantido a autarquia que dirige desde 2009.

A Renamo garante que venceu estas eleições e, inclusivamente, que a sua contagem paralela lhe dá a vitória no conselho municipal de Maputo, a capital moçambicana, e que a contagem intermédia é apenas uma consequência da “megafraude” generalizada cometida pela Frelimo.

O Centro para a Democracia e Direitos Humanos também denuncia "a pior fraude em eleições autárquicas em Moçambique" e avisa para "o espectro de violência generalizada e caos social" que "paira no ar". "O voto punitivo contra uma Frelimo insensível aos problemas do povo beneficiou a oposição (Renamo) em várias autarquias, incluindo Maputo e Matola. Mas a vitória do voto punitivo foi anulada nas secretárias dos órgãos eleitorais, em esquemas que incluem o desaparecimento de editais", diz a organização da sociedade civil.

A contagem paralela da Renamo em Maputo, assente em 98% das actas das mesas de voto, dá a Venâncio Mondlane, candidato do partido, 53% dos votos, mas os resultados oficiais intermédios colocam a Frelimo à frente na capital, a distância considerável da Renamo: 59% para o partido no poder, 37% para a principal força da oposição.

“Demos evidências que nós ganhamos”, afirmou Ossufo Momade no fim da reunião da comissão política do partido, advertindo: “Se os tribunais não vão fazer o seu papel, não é por falta de reclamação”.

“A megafraude, a manipulação dos resultados eleitorais, visam criar um ambiente de guerra para o senhor Filipe Jacinto Nyusi [Presidente da República] e o partido Frelimo manterem-se no poder ilegitimamente”, sublinhou.

O líder do principal partido da oposição quer agora uma reacção popular “através das manifestações” pacíficas, cujo número de pessoas nas ruas possa demonstrar o peso do partido. Para que não continuem a pensar que “a única alternativa que a Renamo tem que usar é a arma”.

Ainda assim, avisou que o desenrolar das manifestações “vai depender do comportamento do regime”.

Estas foram as primeiras eleições desde que ficou concluído, em Junho o processo de desmilitarização e desarmamento do partido, que travou uma guerra civil com a Frelimo pelo controlo do país.

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