Agência meteorológica da ONU: o ciclo global da água “está cada vez mais desequilibrado”

Autores do relatório sobre o estado dos recursos hídricos mundiais em 2022 concluem que mais de 50% das bacias hidrográficas mundiais registaram desvios.

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Imagem de capa do relatório da OMM divulgado esta quinta-feira OMM

A Organização Meteorológica Mundial afirmou esta quinta-feira que o ciclo hidrológico está cada vez mais desequilibrado devido às alterações climáticas e apelou a uma mudança fundamental de políticas para uma melhor monitorização.

"Estamos a assistir a episódios de precipitação muito mais intensa e a inundações. E, no extremo oposto, mais evaporação, solos secos e secas mais intensas", afirmou o Secretário-Geral da OMM, Petteri Taalas, num comunicado divulgado pela agência das Nações Unidas no seu relatório sobre o estado dos recursos hídricos mundiais para 2022.

O relatório mostra que mais de 50% das bacias hidrográficas mundiais registaram desvios em relação às condições normais de descarga dos rios, sendo a maioria delas mais secas do que o normal, citando como exemplo o rio Yangtze na China.

No extremo oposto, os autores do relatório citam o exemplo das inundações no Paquistão que mataram mais de 1700 pessoas no ano passado.

"Sabe-se muito pouco sobre o verdadeiro estado dos recursos de água doce do mundo. Não podemos gerir o que não medimos", afirma a OMM num comunicado, apelando a uma mudança fundamental de política.

O relatório sobre a água é apenas a segunda análise deste tipo efectuada pela OMM e inclui dados de grandes bacias hidrográficas, incluindo a descarga dos rios, as águas subterrâneas, a evaporação, a humidade do solo e o afluxo aos reservatórios.

No documento que destaca que o ciclo hidrológico está a desequilibrar-se devido às alterações climáticas e às actividades humanas, os cientistas alertam para a realidade à nossa volta: "secas e os fenómenos pluviométricos extremos estão a ter um grande impacto nas vidas e nas economias".

Sublinha-se ainda o papel do degelo que "aumentou os riscos, como as inundações, e ameaça a segurança hídrica a longo prazo para muitos milhões de pessoas". "Os glaciares e a cobertura de gelo estão a recuar diante dos nossos olhos. O aumento das temperaturas acelerou - e também perturbou - o ciclo da água. Uma atmosfera mais quente retém mais humidade", afirma Petteri Taalas, citado no comunicado.

"É necessário melhorar a monitorização, a partilha de dados, a colaboração transfronteiriça e as avaliações dos recursos hídricos, bem como aumentar os investimentos para o efeito. Isto é vital para ajudar a sociedade a lidar com os crescentes extremos de água em excesso ou em falta", refere o comunicado de imprensa sobre o relatório da OMM.

Este trabalho publicado agora baseia-se num relatório-piloto publicado no ano passado. "Contém informações mais alargadas sobre variáveis hidrológicas importantes, como as águas subterrâneas, a evaporação, o fluxo de água, o armazenamento de água terrestre, a humidade do solo, a criosfera (água congelada), os influxos para os reservatórios e as catástrofes hidrológicas. Integra observações de campo, dados de teledetecção por satélite e simulações de modelação numérica para avaliar os recursos hídricos à escala global".

O documento nota ainda que a esmagadora maioria das catástrofes está relacionada com a água, pelo que a gestão e a monitorização da água estão no centro da iniciativa global "Alerta Rápido para Todos". "Muitos dos países que são alvo de acções prioritárias no âmbito da iniciativa "Alerta Rápido para Todos" sofreram grandes inundações ou secas em 2022. Nem um único país dispunha de dados hidrológicos atempados e precisos para apoiar a tomada de decisões baseadas em dados concretos e a acção rápida", diz Petteri Taalas.

E conclui: "Este relatório é um apelo à acção para uma maior partilha de dados, a fim de permitir alertas rápidos significativos e políticas de gestão da água mais coordenadas e integradas, que são parte integrante da acção climática".

O trabalho contou com o contributo de dezenas de especialistas e complementa o relatório emblemático da OMM sobre o estado do clima global. O objectivo? "Fornecer informações integradas e holísticas aos decisores políticos."

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