Em 2020, um em cada dez bebés nasceu prematuro

Nenhuma região do mundo reduziu significativamente as taxas de prematuridade entre 2010 e 2020. A prioridade deve centrar-se na melhoria dos cuidados de saúde antes e depois do parto.

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O investimento nos cuidados de saúde é fundamental para garantir bons cuidados de saúde aos bebés prematuros Nelson Garrido

Em 2020, um em cada dez bebés nasceu prematuro, ou seja, antes das 37 semanas. Os resultados apresentados num estudo publicado na revista The Lancet realçam a estabilidade na percentagem de bebés prematuros entre 2010 e 2020 e ainda uma necessidade de investir em cuidados de saúde antes e depois do parto – sobretudo em países com menos rendimentos.

“Os bebés prematuros são especialmente vulneráveis a complicações de saúde e necessitam de especial cuidado e atenção”, alerta Anshu Banerjee, um dos responsáveis da Organização Mundial de Saúde (OMS) envolvido neste estudo. “Estes números mostram uma necessidade urgente de investimento sério na disponibilidade de serviços para apoiar os bebés e as suas famílias, bem como uma maior concentração na prevenção, particularmente na garantia de acesso a cuidados de saúde com qualidade antes e durante a gravidez.”

Os dados estudados entre 2010 e 2020 continuam a mostrar uma grande disparidade entre regiões do globo – o que motiva os pedidos de investimento na saúde em países com menos rendimentos. Cerca de 65% dos nascimentos prematuros em 2020 aconteceram em apenas duas regiões: África subsariana e Sul da Ásia, duas regiões com índices de acesso a cuidados de saúde de qualidade baixos. A prematuridade é a principal causa de morte de crianças nos primeiros anos de vida, sobretudo devido às complicações ou doenças associadas a este nascimento precoce.

Os resultados não são surpreendentes para Nuno Clode, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno Fetal. “Estes números da prematuridade, que preocupam sempre a comunidade médica, têm sido relativamente estáveis”, explica. “Actualmente, o que é muito preocupante são os grandes prematuros, ou seja, os bebés que nascem antes das 28 semanas e que têm maior risco de complicações e sequelas”, alerta.

Nuno Clode realça a necessidade de investir nos países em que os cuidados de saúde não permitem o acompanhamento e tratamento fundamental para estas crianças. “Os cuidados antenatais – no diagnóstico e prevenção – e os cuidados perinatais praticamente não existem em países com baixos rendimentos para crianças prematuras que precisam muito, sobretudo quando nascem com menos de 28 semanas”, diz.

A diminuição dos 10% de prematuros em todo o mundo será importante, mas a prioridade, para Nuno Clode, está nos grandes prematuros. “Fundamentalmente, a preocupação deve ser centrada nas situações de prematuros entre as 23 ou 24 semanas e as 29 semanas, porque são estes que têm situações mais complicadas”, nota, advertindo que não são os casos mais frequentes.

Em Portugal

Em Portugal, essa não é a realidade com que nos deparamos. A qualidades dos cuidados neonatais resulta numa mortalidade muito baixa no primeiro mês de vida da criança: em 1980, por cada mil nascimentos morriam 15 crianças no primeiro mês; em 2022, por cada mil nascimentos morre uma criança no primeiro mês – uma das taxas mais baixas na Europa.

Os dados para Portugal são mais favoráveis: apenas 7,8% dos bebés nascem prematuros. Este resultado está em linha com um estudo publicado em Fevereiro deste ano, pelos médicos Cecília Elias, Paulo Jorge Nogueira e Paulo Sousa, que apontavam para um valor similar (7,7%). Nesse mesmo estudo, que analisou dados até 2018, os autores apontam ainda que apenas uma pequena percentagem destes prematuros nasce antes das 29 semanas – entre 5,5% e 7,6% de todos os bebés prematuros.

“Tem havido enormes avanços na medicina para atrasar o momento da prematuridade, por exemplo, o que é muito importante nas fases mais precoces – a sobrevivência às 27 semanas é diferente da sobrevivência às 30 semanas”, refere Nuno Clode. “Há também mais fármacos que permitem melhorar as condições da criança no nascimento”, indica, destacando alguns dos caminhos para melhorar a saúde destes bebés prematuros.

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