Universidade do Porto aposta em sessões com cães para prevenir burnout nos alunos

O Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar lançou esta quarta-feira as sessões de terapia com cães de assistência. Lola reduz a ansiedade e “o stress imediato” dos estudantes.

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Universidade do Porto aposta em sessões com cães para prevenir burnout nos alunos LUSA/JOSÉ COELHO

Lola, cadela de um ano e meio, foi a escolhida para a actividade assistida por animais lançada esta quarta-feira pelo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) e que tem como objectivo prevenir a doença mental dos universitários, reduzindo o "stress imediato".

No dia em que se assinala o Dia Mundial do Animal, o ICBAS, da Universidade do Porto, iniciou a primeira sessão assistida por cães destinada a todos os estudantes do ensino superior que precisem de apoio na área da saúde mental, designadamente para combater a ansiedade e o stress, mas também o burnout, explicou a coordenadora do Gabinete de Apoio ao Estudante do ICBAS, Isabel Lourinha, que é também psicóloga em Clínica e Saúde e doutorada em Medicina Biomedicina.

"Hoje, o que aconteceu aqui, foi uma actividade assistida pela cadela [Lola], em que o objectivo terapêutico é a redução do stress imediato", declarou, acrescentando que se nota um aumento da "ansiedade e da solidão" nos estudantes de ensino superior, muito derivado das "novas tecnologias" que contribuem para a falta de contacto presencial, físico e também a falta do humano.

A sessão arrancou com os alunos sentados em pufes, enquanto a cadela se ambientava aos estudantes através do olfacto, cheirando-os e pedindo festinhas. Depois de algumas tarefas desenvolvidas com os universitários num contexto de sala, seguiu-se a fase do "efeito espelho" que permitiu a Lola identificar o estado de ânimo do aluno, uma vez que, apontou Isabel Lourinha, a forma como o estudante se comporta com o animal também tem implicação no comportamento da cadela.

Lola ajuda os estudantes a reduzirem os níveis de stress, ansiedade e ajuda a combater o burnout JOSÉ COELHO/LUSA
Em Novembro, época de exames, a cadela vai voltar a estar com os alunos JOSÉ COELHO/LUSA
Além de ser um cão de assistência, Lola representa a luta contra o abandono JOSÉ COELHO/LUSA
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Lola ajuda os estudantes a reduzirem os níveis de stress, ansiedade e ajuda a combater o burnout JOSÉ COELHO/LUSA

A psicóloga recorda ainda que nos últimos anos, principalmente pós-pandemia, tem recebido cada vez mais pedidos de consulta e esta actividade com a cadela vem no sentido de tentar promover a saúde mental, tentando trabalhar antes de o problema surgir e prevenir que as situações de ansiedade, stress ou burnout aconteçam.

"Sentimos um aumento essencialmente de níveis de ansiedade. Fizemos um estudo e verificámos que, de maneira geral, em todos os nossos cursos os estudantes tiveram níveis consideráveis de burnout, sem excepção do curso em que estavam."

O burnout é um estado de exaustão emocional e cognitiva que ocorre quando o corpo se encontra num estado de alerta constante por vários motivos. "Estamos numa escola que tem a perspectiva de one health (uma saúde, em tradução livre), em que se considera uma abordagem que a saúde é a intersecção do humano, do ambiente e do animal e que todos se relacionam e que, se uma parte for afectada, todas as outras também estão. E pandemia mostrou exactamente isso", acrescentou.

Mercedes Fernandes, estudante do 5.º ano de Medicina no ICBAS, admite gostar muito de animais, principalmente de cães e considera que actividades como esta são inovadoras nas faculdades. Diz ainda que são uma ajuda para lidar com o curso de medicina.

"O curso em si é bastante exigente e causa muito stress em qualquer contexto e acho que, depois da [pandemia] da covid-19, houve uma grande decadência na saúde mental pelo que vi comigo e com os meus amigos. Esta actividade com a Lola, pelo menos para quem gosta de animais e não tem medo, acho que permite combater essa parte", destacou.

A cadela de pêlo preto e manchas castanhas fez formação intensiva de animas e, segundo a veterinária e treinadora Luísa Guardão, é também "embaixadora da causa animal" por ter vindo de um canil.

Luísa Guardão, que também é dona da cadela, destaca que os animais de pêlo escuro raramente têm oportunidade para sair dos canis e, por isso, Lola vem ajudar também a contrariar esse estigma, promovendo o não abandono dos animais. Sobre a estreia com os universitários, a veterinária afirma que, no contexto em que foi colocada, a cadela respondeu "lindamente".

O ICBAS vai avançar em Novembro, época dos exames e frequências dos estudantes do ensino superior, com uma "experiência piloto", onde Lola também vai participar.

"É exactamente quando há o pico da ansiedade para o estudante" e a experiência piloto vai servir para ver se contribui "para um decréscimo" da ansiedade dos alunos.

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