Wopke Hoekstra compromete-se a manter a ambição climática da UE

Na audição no Parlamento Europeu, o nomeado holandês para comissário da Acção Climática disse que vai seguir a ciência e propor cortes de 90% nas emissões de CO2 até 2040.

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Comissário Europeu indigitado para a Acção Climática, Wopke Hoekstra, fala durante uma audição na Comissão do Ambiente do Parlamento Europeu em Estrasburgo, 02 de Outubro de 2023. EPA/JULIEN WARNAND

O nomeado holandês para o cargo de comissário da Acção climática, Wopke Hoekstra, prometeu prosseguir as políticas da União Europeia para atingir a neutralidade carbónica, garantindo aos eurodeputados das comissões de Ambiente e Indústria que se assumir a pasta só alterará as metas para a redução do uso de combustíveis fósseis e das emissões de gases com efeito de estufa para as tornar ainda mais ambiciosas.

“As alterações climáticas são claramente um risco e uma ameaça e não deixarei de ser ambicioso quando fixar o próximo objectivo [de redução de emissões] para 2040”, afirmou o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros dos Países Baixos, indicado pelo seu Governo para substituir o “czar do clima”, Frans Timmermans, em Bruxelas. O primeiro vice-presidente executivo da Comissão Europeia demitiu-se para se candidatar a primeiro-ministro nas eleições legislativas antecipadas de 22 de Novembro.

Com pouco mais de um ano de mandato pela frente, o nomeado holandês — que preside ao partido de centro-direita CDA, e foi ministro das Finanças e dos Negócios Estrangeiros nos últimos dois governos de coligação — esforçou-se por desfazer as dúvidas do Parlamento Europeu sobre o seu compromisso com as políticas de transição energética e ecológica, ou de protecção e restauro da natureza, definidas pelo executivo comunitário.

Questionado sobre a sua credibilidade e potenciais conflitos de interesse, Wopke Hoekstra, que foi quadro da petrolífera Shell e sócio da consultora McKinsey, respondeu que o seu percurso profissional, e a sua experiência política e diplomática, “no contexto muito difícil dos últimos anos”, trouxeram-lhe um “grande conhecimento” e uma “boa compreensão” do funcionamento das organizações multilaterais e dos mercados e indústrias que são fundamentais para o processo de transição.

Garantido o apoio da sua família política do Partido Popular Europeu, que está contra algumas das propostas do pacote “Fit for 55”, Wopke Hoekstra afinou o seu discurso para convencer as bancadas do centro esquerda (socialistas, liberais e verdes) de que não protagonizará nenhuma mudança de rumo: o holandês precisa de uma maioria de dois terços dos votos para ser confirmado no cargo.

Na sua intervenção inicial, em inglês, francês e alemão, as três línguas de trabalho da UE, Hoekstra comprometeu-se a seguir as recomendações dos painéis científicos quando apresentar a sua proposta de meta vinculativa para a redução das emissões de CO2 até 2040, na Primavera. Os especialistas têm defendido um corte entre 90 e 95%, que a indústria classifica como irrealista.

"Apaixonado" pelo ETS

“Vou usar todos os instrumentos disponíveis para que a UE possa atingir o objectivo mínimo recomendado de 90% de reduções líquidas”, disse, surpreendendo os eurodeputados ao confessar que se tinha “apaixonado” pelo sistema de comércio de licenças de emissões (conhecido pela sigla ETS). A maior parte das receitas do mercado do carbono entram nos cofres nacionais e não da UE, mas Hoekstra pretende estudar a possibilidade de canalizar uma parte desse dinheiro para o financiamento climático.

Ao mesmo tempo, garantiu concordar com a aceleração do processo de eliminação dos subsídios aos combustíveis fósseis, que considerou “contraproducente” em termos da transição energética da UE. “Quanto mais depressa passarem à história, melhor”, referiu, repetindo que o caminho passa pela triplicação da capacidade instalada de energias renováveis e a duplicação da taxa de eficiência energética até ao final desta década.

O ex-governante, que se for confirmado no cargo será o emissário da UE na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP 28), no Dubai, prometeu colaborar com os restantes países para assegurar que os países desenvolvidos cumprem as suas promessas de financiamento climático. Hoekstra disse que vai defender a criação de uma “coligação global de perdas e danos”.

Depois de uma longa audição, que teve de ser interrompida por mais do que uma vez por problemas técnicos com o som na sala, os coordenadores da comissão de Ambiente do Parlamento Europeu decidiram suspender a sua avaliação e adiar a sua decisão sobre a nomeação de Wopke Hoekstra até esta terça-feira.

O adiamento serve um propósito político: esta terça-feira, a comissão de Ambiente ouve o vice-presidente da Comissão, Maros Sefcovic, que na sequência da demissão de Frans Timmermans foi promovido a vice-presidente executivo com a supervisão do Pacto Ecológico Europeu (Green Deal). No futuro organograma da Comissão, Sefcovic será o “chefe” de Wopke Hoekstra, pelo que a bancada do S&D poderá aceitar uma “trégua” na nomeação do holandês, para evitar a retaliação do PPE contra o veterano político socialista eslovaco.

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