Luso-canadiana candidata-se a presidente da Câmara dos Comuns do Canadá

A Câmara dos Comuns do Canadá vai escolher um novo líder, após Anthony Rota se ter demitido na sequência de ter convidado um veterano da unidade nazi Waffen SS, durante o discurso de Zelensky.

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Natural de Lisboa, Alexandra Mendes vive no Canadá desde 1978 Unsplash

A luso-canadiana Alexandra Mendes vai candidatar-se pela segunda vez a presidente do parlamento federal canadiano, um cargo que considera “muito importante para a cultura civil”.

“Não é nas condições que desejaria, a maneira como chegámos a esta situação foi muito triste e dramática, mas dadas as circunstância e as aspirações, que tinha há dois anos, mantêm-se. É uma posição que adoro preencher nas ocasiões que tenho enquanto vice-presidente adjunta. É com muito gosto que o faço, numa função que é extraordinariamente interessante. Penso que é muito importante para a nossa cultura civil”, disse Alexandra Mendes, de 59 anos, em declarações à agência Lusa.

A Câmara dos Comuns do Canadá vai escolher um novo líder após Anthony Rota se ter demitido na terça-feira, na sequência de ter convidado um veterano da unidade nazi Waffen SS, durante o discurso do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, no dia 22 de Setembro.

“Não há mais a dizer sobre o assunto, está mais do que debatido. Foi uma situação absolutamente inaceitável. Esperamos ter aprendido toda uma lição, de que se vamos reconhecer oficialmente alguém na Câmara dos Comuns, temos de ter a certeza absoluta de que essa pessoa é digna de ser reconhecida. É fundamentalmente essa a lição”, declarou a luso-canadiana.

Após o discurso do Presidente da Ucrânia, os deputados canadianos dos vários grupos parlamentares aplaudiram de pé Yaroslav Hunka, de 98 anos, quanto Anthony Rota o apresentou como herói de guerra, que lutou pela Primeira Divisão Ucraniana, durante a Segunda Guerra Mundial, uma divisão que lutou ao lado do regime nazi de Adolf Hitler. A Primeira Divisão Ucraniana também era conhecida como Divisão Waffen-SS Galicia, ou 14.ª Divisão Waffen SS, uma unidade voluntária que estava sob o comando dos nazis.

A deputada federal liberal Alexandra Mendes foi eleita em 2019 vice-presidente do parlamento canadiano, ocupando o cargo de vice-presidente assistente desde 2021, após ter concorrido ao cargo de “Speaker” em que Anthony Rota foi o vencedor.

As muitas horas no cadeirão

A luso-canadiana disse que esta segunda candidatura tem algumas vantagens, visto que alguns dos seus colegas no parlamento, na altura mais novos, “têm mais experiência” e conhecem o seu estilo de gerir os debates na Câmara dos Comuns, nas “muitas horas passadas no ‘cadeirão’, como é conhecida a cadeira do Presidente do Parlamento”.

A função de “Speaker” (a que Alexandra Mendes se candidata) no sistema parlamentar canadiano “é um pouco diferente” da do presidente da Assembleia da República em Portugal. É um cargo neutro, não partidário, sem nomeação do partido, utilizando um uniforme preto e branco, para que seja reflectida essa posição neutra. No entanto, os cargos de vice-presidente do parlamento e vice-presidente adjunto já podem continuar ligados aos partidos pelos quais foram eleitos.

Além de Alexandra Mendes, pelo menos uma dezena de deputados mostrou interesse no cargo, estando confirmados o conservador Chris d"Entremont (actual vice-presidente do parlamento) e a nova-democrata Carol Hughes (vice-presidente adjunta).

O novo “Speaker” será votado no dia 3 de Outubro, às 10h locais (15h de Lisboa), na Câmara dos Comuns.

Natural de Lisboa, mas no Canadá desde 1978, a luso-canadiana cumpre o seu quarto mandato como deputada, representando o distrito eleitoral de Brossard-Saint-Lambert (Montreal), desde 2015. Entre 2008 e 2011 representou o distrito de Brossard-La-Prairie.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou Alexandra Mendes, no último dia 15 de Setembro, em Toronto, com a Ordem de Camões, numa cerimónia que contou com a presença do primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, após visitarem uma exposição sobre os 70 anos da imigração oficial portuguesa para o Canadá. “Seriam duas prendas maravilhosas neste ano, a condecoração da Presidência da República, e caso seja eleita presidente da Câmara dos Comuns”, concluiu.

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