O Reino Unido é o país do G7 que reduziu de forma mais rápida as emissões de carbono?

Foi a puxar dos pergaminhos climáticos britânicos que o primeiro-ministro Rishi Sunak anunciou um retrocesso nas políticas britânicas para a redução das emissões de gases com efeito de estufa.

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Rishi Sunak anunciou o adiamento de várias metas de redução das emissões de gases com efeito de estufa Justin Tallis/REUTERS
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A frase

“O Reino Unido está muito à frente dos outros países do mundo no que toca à neutralidade carbónica. Tivemos a redução mais rápida de gases com efeito de estufa no G7”

Rishi Sunak

O contexto

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Os factos

Durante muitos anos, o Reino Unido foi, de facto, líder mundial em matéria climática, em particular quando comparado com o G7, o grupo das maiores economias (e as mais poluentes) do mundo.

Contudo, esta liderança já estava a afrouxar. Em Julho, noticiava o Financial Times, os dados oficiais publicados por cada país indicavam que as emissões da Alemanha diminuíram 17% entre 2016 e 2022, enquanto as do Reino Unido caíram 14% no mesmo período.

Ou seja, apesar de o Reino Unido se poder gabar de liderar na redução de gases com efeito de estufa por comparação aos níveis de 1990 – menos 48,7%, quando a redução da Alemanha, actual maior poluidor da UE, foi de 40% –, os alemães têm conseguido reduzir as emissões mais rapidamente desde o Acordo de Paris, que entrou em vigor em 2016.

“O Reino Unido perdeu a sua clara posição de liderança mundial em matéria de acção climática”, lê-se no relatório deste ano da Comissão para as Alterações Climáticas (CCC) britânica, publicado em Junho, referente aos dados de 2022.

O relatório do CCC sublinha que “as emissões de gases com efeito de estufa do Reino Unido foram de 450 MtCO2e (megatoneladas de dióxido de carbono equivalente) em 2022, incluindo a quota-parte do Reino Unido na aviação internacional e no transporte marítimo, que é 46% inferior aos níveis de 1990”.

Apesar de se tratar de um aumento de 0,8% desde 2021, “permanece 9% abaixo dos níveis pré-pandémicos (2019)”. Ou seja, de acordo com a CCC, o Governo já estava a desviar-se do caminho para cumprir o quinto e o sexto orçamentos de carbono (que vão, respectivamente, de 2028 a 2032 e de 2033 a 2037).

“A nossa reacção à recente crise dos preços dos combustíveis fósseis não abrangeu as medidas rápidas que poderiam ter sido tomadas para reduzir a procura de energia e aumentar a produção de energias renováveis”, continua o relatório. “Recuámos nos nossos compromissos em matéria de combustíveis fósseis, com a autorização de uma nova mina de carvão e o apoio a uma nova produção de petróleo e gás no Reino Unido – apesar da redacção firme do Pacto Climático de Glasgow.”

Além disso, referem os cientistas, o Reino Unido tem sido lento “a reagir à Lei de Redução da Inflação dos EUA e ao Plano Industrial do Pacto Ecológico proposto pela UE”. Tem faltado, portanto, algum pragmatismo à acção do Governo – para usar uma das palavras de Sunak.

Conclusão

A afirmação de Rishi Sunak é verdadeira: o Reino Unido foi o país do G7 (recorde-se, um grupo que inclui os países mais poluidores do mundo) com maior redução nas emissões de gases com efeito de estufa desde 1990.

Contudo, esta liderança parece colher frutos de políticas de décadas anteriores, tendo em conta que as reduções nos últimos sete anos (desde os compromissos do acordo de Paris) ficam atrás, por exemplo, dos resultados de países como a Alemanha.

De acordo com o CCC, o país não estava já a tomar as acções adequadas para o caminho da neutralidade carbónica – e ainda está por compreender o impacto deste retrocesso. Curiosamente, no relatório de Junho, a comissão utilizava já as mesmas palavras de Sunak, em sentido oposto: “É necessária uma abordagem mais realista dos resultados.” “Continua a haver uma abordagem demasiado restrita das soluções, que não inclui a necessidade de reduzir a procura de actividades com elevado teor de carbono.”

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