Crise climática está a dificultar combate à malária, sida e tuberculose

Relatório do Fundo Global de Luta contra a Sida, a Tuberculose e a Malária diz que clima e conflitos estão a prejudicar os esforços para combater três das doenças infecciosas mais mortais do mundo.

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Profissional de saúde realiza testes de malária em Moçambique, numa clínica montada pelos Médicos Sem Fronteira em 2021 Paulo Pimenta

As alterações climáticas e os conflitos estão a prejudicar os esforços para combater três das doenças infecciosas mais mortais do mundo, alertou Peter Sands, director executivo do Fundo Global de Luta contra a Sida, a Tuberculose e a Malária.

As iniciativas internacionais para combater as doenças recuperaram o fôlego depois de terem sido gravemente afectadas pela pandemia de covid-19, de acordo com o relatório de resultados deste ano do Fundo Global de Luta contra a Sida, divulgado esta segunda-feira.

Os desafios crescentes das alterações climáticas e dos conflitos, contudo, significam que o mundo provavelmente não atingirá o objectivo de pôr fim à sida, à tuberculose e à malária até 2030 sem “medidas extraordinárias”, disse Peter Sands.

Existem também pontos positivos, sublinhou Sands. Por exemplo, em 2022, 6,7 milhões de pessoas foram tratadas contra a tuberculose nos países onde o Fundo Global investe. Trata-se do maior número de sempre, e de mais 1,4 milhões de pessoas do que no ano anterior. O fundo também ajudou 24,5 milhões de pessoas a terem acesso à terapia anti-retroviral para o VIH e distribuiu 220 milhões de redes mosquiteiras.

O fundo afirmou que o regresso ao caminho certo após a pandemia se tornou “muito mais difícil devido a uma combinação de crises interligadas”, incluindo as alterações climáticas, num excerto citado no relatório.

A malária está, por exemplo, a alastrar para regiões montanhosas de África, anteriormente demasiado frias para o mosquito que transporta o agente da doença. Fenómenos climáticos extremos, como inundações, estão a sobrecarregar os serviços de saúde, deslocando comunidades, causando surtos de infecções e interrompendo o tratamento em muitos lugares diferentes, afirma o relatório.

Em países como o Sudão, a Ucrânia, o Afeganistão e Mianmar, simplesmente chegar às comunidades vulneráveis já tem sido um enorme desafio devido à insegurança, acrescenta o documento. Sands frisou que ainda há esperança, em parte devido às ferramentas inovadoras de prevenção e diagnóstico.

Críticas ao Fundo Global

Esta semana, realiza-se uma reunião de alto nível sobre tuberculose na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, e os profissionais que se dedicam à prevenção e tratamento da doença esperam maior investimento na área.

O Fundo Global tem enfrentado críticas de alguns especialistas em tuberculose por não atribuir uma maior parte do orçamento à doença, uma vez que é a maior causa de morte das três patologias às quais a organização se dedica.

"Não há dúvida de que o mundo precisa de dedicar mais recursos ao combate à tuberculose, mas não é tão simples como comparar as mortes anuais causadas por cada doença", disse Sands. Muitos países com a carga mais elevada de tuberculose são nações de rendimento médio, tendo mais capacidade para financiar internamente os serviços de saúde pública.

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