Sismo em Marrocos: onde aconteceu, as vítimas que já provocou e os portugueses afectados

O sismo de sexta-feira, com epicentro a 70 quilómetros de Marraquexe, foi um dos mais fortes registado em Marrocos. A Força Aérea enviará um voo para repatriar 75 dos 300 portugueses já identificados.

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Mais de 1300 pessoas morreram na sequência do sismo que esta sexta-feira abalou Marrocos Reuters/ABDELHAK BALHAKI
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Um sismo com magnitude de 6,8 na escala de Richter abalou Marraquexe, em Marrocos, esta sexta-feira às 23h11. De acordo com o Instituto Nacional de Geofísica do país, o epicentro deu-se a 18 quilómetros de profundidade e a 70 quilómetros a sul da cidade, nas montanhas do Alto Atlas.​

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Segundo apuraram as Nações Unidas (ONU), mais de 300 mil pessoas foram afectadas pelo sismo. Até ao princípio da noite deste sábado foram contabilizados, pelo menos, 2122 mortos e 2421 feridos, dos quais 1404 se encontram em “estado crítico”.

O sismo em Marraquexe terá atingido o grau IX (escala de Mercalli modificada) de intensidade (destrutivo) nos lugares mais afectados. Durante as horas seguintes, dezenas de vídeos publicados nas redes sociais mostraram os momentos de aflição de quem, na rua, procurava escapar aos edifícios que ruíam.

A luz da manhã deste sábado revelou o cenário de destruição, para o qual contribuiu também a fragilidade das construções. Além da perda de vidas e de edifícios residenciais, foram notados também os estragos no centro histórico de Marraquexe, cidade que guarda património mundial da UNESCO.

Os trabalhos das equipas de socorro prosseguem, uma vez que muitas famílias continuam sob os escombros. E o aumento de vítimas mortais será expectável, conforme explicou ao PÚBLICO o geólogo João Duarte, pois os “sismos acima de 6 [de magnitude] e com pouca profundidade” são “muito perigosos” quando, em redor, há uma densidade populacional considerável.

Assim se explica o número de mortes em Al Haouz – próxima do epicentro – e Taroudant. Pelas 23h deste sábado, eram as regiões com o maior número de mortos: 1293 e 452, respectivamente.

O professor na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa explicou também que o sismo de sexta-feira, em terra e de pouca profundidade – e o mais violento registado em Marrocos nos últimos 120 anos –, poderia, ainda assim, originar uma tragédia semelhante à vivida em 1960, após um sismo de magnitude de 5,8.

“Matou mais de 12 mil pessoas e localizou-se mesmo por baixo da cidade de Agadir”, disse João Duarte.

Entretanto, no aeroporto de Menara, em Marraquexe, muitos estrangeiros refugiam-se no edifício, após uma noite sem dormir e muitas horas de aflição.

Dois portugueses entre os feridos, mas fora de perigo

A tragédia em Marrocos levou vários chefes de Estado, incluindo o Presidente da República, a disponibilizarem ajuda às equipas de socorro e autoridades locais, mas o rei de Marrocos, Mohammed VI, continua sem formalizar o pedido de ajuda. Ainda assim, a organização britânica Cruz Vermelha já iniciou uma angariação de fundos para enviar ajuda humanitária.

De resto, durante a tarde deste sábado ecoaram várias declarações de condolências, como dos presidentes da Ucrânia e da Rússia, ou do porta-voz do secretário-geral da ONU. O rei marroquino decretou três dias de luto nacional.

Quanto à presença de portugueses entre as vítimas, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, garantiu que apenas dois portugueses, um pai e uma criança, estão entre os feridos, mas fora de perigo. Um avião da Força Aérea Portuguesa chegará nas próximas horas a solo marroquino para repatriar 75 dos 300 cidadãos portugueses já identificados naquela região, um total que continuará a “oscilar”, ressalvou João Gomes Cravinho.

Os portugueses "que queiram regressar" devem contactar o gabinete de emergência consular em Portugal (+351 217929714 ou +351 961706472) ou com a embaixada portuguesa em Rabat (+212 674731819).

Face à intensidade de 6,8 na escala de Richter, o sismo foi também sentido na Península Ibérica. Durante a noite de sexta-feira surgiram relatos na região do Algarve, em Lisboa, em Setúbal, e até ao Porto — embora com um nível de vibração baixo e inofensivo. De acordo com Fernando Carrilho, geofísico do IPMA, “é provável” que um sismo semelhante aconteça em Portugal. Sem querer causar alarmismo, o geofísico sublinha que a formação da população, assim como a construção e o edificado são aspectos a rever.

“Estamos conscientes de que vivemos num território que está exposto ao fenómeno sísmico. É um fenómeno de baixa probabilidade de ocorrência, mas quando acontecer pode ter um impacto muito grande. O que mata não é o sismo propriamente dito, mas as casas onde vivemos”, conclui Fernando Carrilho.

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