Caso dos roubos no Museu Britânico: novo director e pedido de restituição vindo do País de Gales

Mark Jones, antigo director do Museu Victoria & Albert, foi o escolhido. Em 2002, sugeriu a partilha dos mármores do Pártenon como forma de resolver a disputa entre a Grécia e o Museu Britânico.

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Os mármores do Pártenon em exposição no Museu de Londres Reuters/TOBY MELVILLE
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Com a credibilidade seriamente abalada pela revelação do roubo ao longo dos anos, por parte dos seus próprios funcionários, de milhares de artefactos da sua colecção, o que conduziu a acusações de incúria na protecção do seu vastíssimo património e à intensificação de pedidos de restituição de artefactos vindos da Grécia, da Nigéria e até do País de Gales, o Museu Britânico anunciou este sábado Mark Jones, que trabalhou no museu entre os anos 1970 e 1990 e que dirigiu no passado o Museu Victoria & Albert, como director interino. Dois dias antes, Carl Heron, até agora director do departamento de Investigação Científica do Museu Britânico, fora nomeado seu vice-director.

Anunciadas após a demissão a 25 de Agosto do alemão Hartwig Fischer, que assumira a direcção do Museu Britânico em 2016, bem como do seu vice-director, Jonathan Williams, as nomeações podem sinalizar uma mudança naquela que tem sido a posição do Museu Britânico relativamente aos mármores do Pártenon. O Guardian recuperou uma entrevista de Mark Jones ao Observer, em 2002, na qual o antigo conservador e conservador assistente de Moedas e Medalhas do museu, entre 1974 e 1992, sugeria que a partilha dos mármores poderia ser uma forma de resolver a longa disputa que opõe o Museu Britânico à Grécia, que desde 1983 reclama a devolução das peças levadas para o Reino Unido no século XVIII por Lord Elgin, quando a Grécia integrava o Império Otomano.

“Não se trata necessariamente de transferir a propriedade ou de devolver os mármores para sempre, mas quando as pessoas acreditam que as coisas são realmente importantes, como acontece neste caso com os gregos e com o Museu Britânico, isso é de facto uma coisa boa. A apatia é o nosso grande inimigo", afirmou então Jones. No início deste ano, o Museu Britânico e o Governo grego revelaram estar a manter encontros e “discussões construtivas” sobre o futuro dos mármores do Pártenon.

George Osborne, presidente de conselho de administração do Museu Britânico, antigo Chanceler do Tesouro e secretário de Estado do governo dos Conservadores liderado por David Cameron, afirmou que Mark Jones garantirá à instituição a “liderança e a garra” de que esta necessita neste momento. As suas prioridades serão “acelerar a catalogação da colecção [apenas cerca de metade da colecção, 4,5 milhões de peças, estão incluídas na base de dados da instituição], melhorar a segurança e reforçar o orgulho na missão de curadoria do museu”, a par de dar continuidade ao vasto trabalho de remodelação do edifício do museu e da sua colecção permanente, cuja conclusão não acontecerá antes de 2050. “Prometi que iríamos aprender as lições e, depois, lançar as bases para um futuro sólido. A nomeação de Mark é um grande passo nessa direcção”, defendeu.

Um museu "transparente"

Enquanto prossegue a investigação independente desencadeada pelas autoridades e enquanto Peter Higgs, curador das colecções gregas e romanas por mais de trinta anos, despedido em Julho, é alvo de investigação policial, as ondas de choque provocadas pelo caso continuam a fazer-se sentir. A Grécia e a Nigéria não perderam tempo a reclamar a devolução dos mármores do Pártenon e dos bronzes do Benim, respectivamente, justificada, argumentam, pela falta de condições de segurança para as peças, no caso grego, e pelo desmoronar do argumento, tantas vezes repetido por instituições ocidentais, de que as peças que albergam correriam o risco de não serem devidamente preservadas nos seus países de origem. Os pedidos de restituição, de resto, chegam mesmo do interior do Reino Unido.

Na passada quinta-feira, Liz Saville Roberts, do Plaid Cymru, partido nacionalista galês, defendeu a que as peças galesas do Museu Britânico deveriam ser alojadas em instituições do País de Gales. “Londres não é necessariamente o melhor local para armazenar coisas”, disse à Sky News.

Num artigo de opinião publicado a 29 de Agosto no Art Newspaper, Dan Hicks, curador do Museu Pitt Rivers, em Oxford, escreve que um Museu Britânico adaptado ao século XXI terá de trabalhar na conclusão de uma “base de dados exaustiva e acessível ao público”, de forma a “atingir padrões básicos de documentação”, e de se concentrar em ser transparente quando ao que alberga nos seus armazéns, em vez de se focar “na próxima exposição temporária blockbuster".

Terão sido roubadas do museu cerca de duas mil peças, datadas desde o século 15 a.C. até ao século XIX. Há dois anos, o académico e antiquário dinamarquês Ittai Gradel identificou três delas, postas à venda no eBay, plataforma de comércio electrónica. O alerta feito ao museu por Gradel deu início ao caso. A resposta lenta e a desvalorização do relatado por parte do museu ganhou agora contornos de escândalo, conhecida a extensão e continuidade no tempo dos roubos.

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