Grécia e Museu Britânico em negociações directas sobre os mármores do Pártenon

Há mais de um ano que decorrem encontros ao mais alto nível, sob forte sigilo, sobre a longa disputa quanto aos mármores gregos detidos pela instituição britânica.

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Os mármores, em exposição no Museu Britânico, em 2020 Dylan Martinez/Reuters

Um passo decisivo foi dado na longa disputa entre o Reino Unido e a Grécia quanto à posse dos mármores do Pártenon: há mais de um ano e até há uma semana, governantes gregos e o presidente do conselho de administração do Museu Britânico têm-se reunido para negociar, e o que saiu dessas conversações é tanto descrito como “preliminar” quanto “não só credível, mas muito entusiasmante”. Para o semanário britânico Observer, estas negociações podem representar “um movimento tectónico” na resolução do conflito em torno do emblemático património grego. Mas haverá ainda um longo caminho a percorrer.

No sábado, o jornal grego Ta Nea foi o primeiro a noticiar este encontro, um de vários já decorridos, que teve lugar num hotel de luxo em Londres na segunda-feira passada entre o chefe do executivo grego Kyriakos Mitsotakis e George Osborne, ex-ministro das Finanças conservador britânico e há pouco mais de um ano presidente da administração do museu. Mas Osborne e o primeiro-ministro já se tinham reunido em Junho de 2021, tendo o responsável do Museu Britânico depois recebido outros ministros gregos.

Agora, e ao diário The Guardian, o ministro grego Giorgos Gerapetritis confirmou que “é verdade que há um diálogo entre o Governo grego e o Museu Britânico”, descrevendo as conversações como “preliminares”. O Observer recorda que Mitsotakis deu uma palestra há dias na London School of Economics em que disse acreditar que era possível um desfecho em que ambas as partes ficassem a ganhar, descrevendo “progressos” nas negociações. “É possível que seja encontrada uma solução mutuamente vantajosa, que as esculturas do Pártenon possam ser reunificadas, tendo em conta ao mesmo tempo as inquietações do Museu Britânico”, disse Mitsotakis, citado pela AFP.

Gerapetritis esclareceu ainda que para já o que está em cima da mesa é “estabelecer princípios” para as negociações e diminuir os atritos entre as partes. As fontes próximas do processo citadas pelo Ta Nea dizem por seu turno que as negociações estão “numa fase avançada”. No sábado, em comunicado, o museu disse desejar “uma nova parceria com a Grécia para o Pártenon”, à luz da lei e sem “desmantelar” a colecção da instituição.

Em causa está o desejo expresso da Grécia de ver repatriadas as esculturas de mármore do Pártenon, em discussão há cerca de quatro décadas e que em Maio tinha dado outro passo de gigante — quando o museu britânico aceitou encetar uma ronda intergovernamental de negociações. O Museu Britânico recusa há muito devolver as esculturas com 2500 anos que Lorde Elgin, embaixador britânico junto do Império Otomano, retirou de Atenas em 1805, quando a Grécia estava sob domínio turco, como lembrava o PÚBLICO em Maio.

O Museu Britânico adquiriu os mármores (entre os quais está boa parte do emblemático friso original do Pártenon) em 1816 e, mais de dois séculos mais tarde, o ministro da Cultura acusou Elgin de “um acto gritante de roubo em série”.

A Grécia pede a sua devolução e construiu mesmo um Museu da Acrópole em 2009, cujo objectivo é acolher os importantes mármores.

Nos últimos anos, a discussão sobre a restituição de obras há muito albergadas em museus europeus ou norte-americanos aos seus países de origem agigantou-se, tendo em conta a descolonização das instituições e do próprio discurso cultural. As obras adquiridas ou subtraídas em contexto colonial estão no centro desta discussão. A UNESCO pediu aos dois países que dialogassem, sendo o mais recente impasse o lavar de mãos do Governo de Boris Johnson, então primeiro-ministro, que insistia que o Museu Britânico é uma instituição independente e por isso não poderia interferir no caso.

Na sua intervenção na London School of Economics, o primeiro-ministro grego sublinhou que fala do desejado regresso dos mármores à Grécia como uma “reunificação” de forma consciente, ciente de que há “uma dinâmica”.

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