Gregos em campanha para regresso dos mármores do Parténon

Os gregos vão construir um museu em Atenas, a inaugurar na altura dos Jogos Olímpicos de 2004, para albergar os mármores do Parténon. O único problema é que os ingleses não querem devolver esta obra-prima da escultura da Antiguidade Clássica que está no Museu Britânico e o museu arrisca-se a ficar vazio. Até lá, para fazer pressão, haverá uma estação de Metro, à beira da Acrópole, para lembrar ao mundo a injustiça.

À sombra da antiga Acrópole vai passar a haver uma nova paragem de metropolitano. Destina-se a muitos efeitos: facilitar o trânsito, reduzir a poluição, mostrar arte antiga. Mas também foi concebida para irritar os ingleses. Revestida a mármore branco, a estação "Akropoli", que faz parte do novo e espectacular sistema de metropolitano da cidade, orçado em 2,5 mil milhões de dólares (550 milhões de contos), levará os visitantes a um local a 300 metros de distância do acesso íngreme ao topo plano do monte calcário conhecido como a Acrópole. Lá no alto está o Parténon, do século V a. C., o templo de Atenas que é a obra-prima da arte grega clássica.Após mais de um século de frustração, os gregos elegeram esta estação de metropolitano para enviar a sua mensagem a milhares de pessoas todos os dias: as esculturas de mármore que em tempos adornavam o Parténon deviam regressar de Londres. Para reforçar a ideia, o interior da estação de Akropoli foi decorada com réplicas dos mármores do Parténon, que se encontram actualmente no Museu Britânico. Mais conhecidos como os mármores de Elgin, receberam o nome do embaixador inglês no Império Otomano (que na altura incluía a Grécia), que os retirou do Parténon e os levou para a Inglaterra em 1806, para servir de decoração à sua casa de campo. Dez anos depois, quando Elgin ficou arruinado, o governo inglês pagou-lhe 35.000 libras (uma quantia choruda com a qual se poderia construir um hotel de luxo com 50 quartos) para garantir a sua posse, e em seguida ofereceu-os ao Museu Britânico. Os ingleses alegam que Elgin e os seus colaboradores obtiveram as estátuas de forma legítima. E recusam-se a devolvê-las, apesar de todas as tentativas de as reaver feitas pelos gregos. O espírito de Melina Mercouri, a antiga actriz que veio a ser ministra da Cultura, muito estimada pela forma como lutou para reaver os mármores de Elgin, é evocado através de dois murais fotográficos em que ela aparece sentada em frente do Parténon, com flores nas mãos. "Este é um protesto silencioso que exprime o que todos nós pensamos," disse Triantafyllia Lagoudakou, a enérgica e imaginativa presidente do comité que seleccionou as obras de arte de todas as estações de metropolitano. "Nenhum grego passará por aqui sem apreender a mensagem." A esperança é que os milhões de turistas que passarem por esta estação, em particular os ingleses, também a captem e se sintam obrigados a fazer mais pressão sobre um governo inglês intransigente. A perspectiva do governo actual, segundo um porta-voz da embaixada inglesa, é que "...o regresso das esculturas à Grécia não é uma opção viável ou sensata".Desde que Melina Mercouri fez do regresso dos mármores o núcleo da sua atitude como ministra da Cultura, têm aumentado as esperanças. Sempre se alegou que os gregos não estavam preparados, que não poderiam proporcionar um espaço adequado para os mármores e um controlo apropriado das condições climáticas. Agora a situação é outra, e também são diferentes as atitudes públicas, mesmo na Inglaterra. Segundo uma sondagem recente à opinião pública, são muitos os ingleses, incluindo a maioria dos dirigentes do Partido Trabalhista, que consideram que os mármores de Elgin deviam ser devolvidos.A construção de um novo museu da Acrópole tornou-se central nas discussões em volta do regresso dos mármores a Atenas. O actual museu, construído no século XIX perto do Parténon, é demasiado pequeno e, além disso, desactualizado. "É a minha actividade número um, a minha prioridade máxima, construir um novo museu da Acrópole em 2004," disse o ministro da Cultura Theodoros Pangalos durante uma recente visita a Nova Iorque. Não será fácil: os planos que prosseguem há anos têm sido protelados por problemas vários, e mais recentemente pela descoberta de importantes vestígios arqueológicos no local seleccionado, que fica ao pé da paragem de metro Akropoli. Estão em marcha novos projectos: "Convidámos arquitectos, e temos 16 propostas importantes," diz Pangalos. É sua determinação que haja um projecto final em Junho próximo, e que a construção se inicie pouco depois dessa data. "Estará pronto na altura dos Jogos Olímpicos de 2004 em Atenas." Uma coisa é certa: quando o novo Museu da Acrópole estiver finalizado, terá como atracção central uma grande galeria destinada a albergar os mármores de Elgin. "Será um espaço magnífico," afirmou Pangalos. "E ficará vazio até os mármores serem devolvidos."E se não forem devolvidos? "Então ficará vazio para sempre."*Exclusivo PÚBLICO/"Washington Post"

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