Presidente da Coreia do Sul come marisco para acalmar preocupação com água de Fukushima

O gabinete da Presidência sul-coreana terá produtos do mar na ementa do almoço todos os dias durante esta semana, tentanto dar o exemplo para que a população consuma peixe e marisco sem preocupações.

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Yoon Suk Yeol, Presidente da Coreia do Sul EPA/YONHAP

O gabinete do Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, anunciou que o chefe de Estado almoçou marisco esta segunda-feira, para dissipar preocupações quanto à segurança alimentar do pescado da região, depois de o Japão ter começado a libertar água radioactiva tratada da antiga central nuclear de Fukushima.

O Japão começou a libertar água da central nuclear destruída no Oceano Pacífico na quinta-feira, provocando protestos no Japão e nos países vizinhos. Os consumidores chineses ficaram particularmente perturbados e Pequim anunciou a interdição de todos os produtos aquáticos provenientes do Japão.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro da Coreia do Sul, Han Duck-soo, disse que a interdição de importação de produtos de pesca e alimentares de Fukushima permaneceriam em vigor até que as preocupações da população diminuíssem.

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Medição dos níveis de radiação em marisco japonês na Coreia do Sul. Fotografia tirada a 28 de Agosto de 2023 YONHAP/EPA

O governo sul-coreano afirmou, contudo, não ter encontrado problemas científicos ou técnicos associados à libertação nos seus próprios produtos, mas no país continuam a sentir-se preocupações com a contaminação dos oceanos, incluindo o peixe e marisco pescados.

É neste contexto que, durante a reunião semanal com o primeiro-ministro Han Duck-soo, Yoon Suk Yeol almoçou marisco. Também havia peixe cru na ementa do almoço do bar para os membros do gabinete presidencial, descreve o comunicado da presidência sul-coreana.

"O gabinete da Presidência decidiu oferecer produtos do mar sul-coreanos na ementa do almoço no nosso bar, todos os dias durante uma semana, a partir de segunda-feira, esperando que a nossa população consuma os nossos produtos do mar seguros sem preocupações", lê-se no comunicado.

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Protestos na Coreia do Sul contra a descarga de águas tratadas da antiga central nuclear de Fukushima: "Desistam da libertação de águas residuais de Fukushima!" e "Condenem a administração de Yoon Suk Yeol!" KIM HONG-JI / Reuters

Os testes à água do mar perto da central de Fukushima não detectaram qualquer radioactividade, informou o Ministério do Ambiente do Japão no domingo, dias depois do início das descargas.

A indústria pesqueira, no entanto, ainda teme um declínio acentuado no consumo de marisco. Numa sondagem realizada em Julho pela empresa de sondagens Media Research, 62% dos sul-coreanos afirmaram que reduziriam ou deixariam de consumir marisco se a libertação de águas se concretizasse, apesar das garantias dadas pelo governo de que iria acompanhar de perto a libertação.

No maior mercado de peixe de Seul, em Noryangjin, o vendedor Kim Hi-soo, de 55 anos, deixou à Reuters o seu desabafo: "Um dos nossos clientes habituais veio há dias e disse que vinha consumir o máximo que pudesse antes que [a água libertada] se espalhasse. É de partir o coração, quando penso nas quebras que vamos enfrentar dentro de meses".

Monitorização apertada

De acordo com os resultados dos testes efectuados pela empresa Tepco (que gere a central nuclear), divulgados na quinta-feira e citados pela Reuters, a água libertada continha cerca de 63 becqueréis de trítio por litro, abaixo do limite de 10 mil becqueréis por litro estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a água potável. O becquerel é uma unidade de radioactividade. Na legislação europeia, este isótopo tem de estar abaixo dos 100 becqueréis na água para consumo humano.

“Não haverá quaisquer efeitos para a saúde. Não há qualquer razão científica para proibir as importações de alimentos japoneses”, afirmou à Reuters Geraldine Thomas, antiga professora de patologia molecular no Imperial College de Londres.

Ao Azul, o físico e vice-presidente do Instituto Superior Técnico, José Marques, contextualiza aqueles números com a realidade da indústria nuclear: “Os reactores nucleares nos Estados Unidos libertam trítio a descargas anuais em regime normal que são 68 vezes maiores do que o que se está a propor em Fukushima.”

A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) também divulgou um comunicado em que afirma que a sua análise independente efectuada no local confirmou que a concentração de trítio era muito inferior ao limite.

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