Alegada blasfémia de jovem cristão leva à queima de igrejas no Paquistão

Ministério do Interior enviou forças paramilitares para travar a fúria da multidão que também vandalizou um cemitério. Páginas queimadas do Corão e incitamentos dos imãs provocaram os protestos.

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Cinco igrejas foram queimadas e um cemitério foi vandalizado no Leste do Paquistão ILYAS SHEIKH/EPA
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Uma multidão composta sobretudo por muçulmanos incendiou cinco igrejas e vandalizou um cemitério na província do Punjab, no Leste do Paquistão, em protesto contra uma alegada blasfémia cometida por um jovem cristão, que teria profanado um exemplar do Corão.

A polícia local foi incapaz de travar a fúria dos protestos e o Ministério do Interior enviou forças paramilitares para tentar controlar a situação em Jaranwala, na zona industrial de Faisalabad.

Outros edifícios foram também danificados e a casa do jovem cristão foi demolida por centenas de pessoas.

Vários imãs incitaram os fiéis a reagir com violência contra aquilo a que chamaram a profanação das palavras do profeta, ao mesmo tempo que fotografias e vídeos de páginas do Corão queimadas eram partilhadas.

“Faltam-me as palavras para escrever isto. Nós, bispos, padres e leigos estamos profundamente magoados e angustiados pelo incidente em Jaranwala”, escreveu no X, anteriormente conhecido como Twitter, Azad Marshall, moderador da Igreja Unida do Paquistão. “Bíblias foram profanadas e cristãos perseguidos e torturados, falsamente acusados de violar o Sagrado Corão. Pedimos justiça e acção por parte dos agentes da lei e da ordem”, acrescentou.

Pedindo “justiça e acção” àqueles que devem garantir a lei e a ordem, o bispo Azad Marshall deixou o desejo de que a vida dos cristãos seja “valorizada na sua própria terra natal”.

O primeiro-ministro em funções, Anwarul Haq Kakar, afirmou-se “destroçado” numa mensagem publicada também no X. “Irão ser tomadas medidas duras contra os que violem a lei e ataquem as minorias. Pediu-se a todas as forças da ordem que detenham os culpados e os apresentem à justiça. Asseguro que o Governo do Paquistão apoia a nossa cidadania em igualdade de condições.”

A Comissão de Direitos Humanos do Paquistão (HRCP, na sigla em inglês), também numa publicação no X, alertou que este ataque não é um caso isolado e que este tipo de acções, “sistemáticas, violentas e, habitualmente, incontroláveis”, parecem ter vindo a aumentar nos últimos anos.

Em Maio, quando passou por Portugal, o arcebispo de Lahore, Sebastian Shaw, falava, citado pela Agência Ecclesia, em “diversos ataques contra a comunidade cristã” nos últimos anos e sublinhava que se tinha tornado “muito perigoso ser cristão” no Paquistão.

O arcebispo veio a Portugal para inaugurar em Évora uma exposição sobre “raptos e conversões forçadas de jovens raparigas e mulheres cristãs em vários países do mundo”, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, e falar do caso paquistanês, onde o fenómeno é frequente.

“Não só o Estado falhou na protecção das suas minorias religiosas”, escrevia esta quarta-feira a HRCP, “como também permitiu que a extrema-direita penetrasse e se alastrasse na sociedade e na política”, contribuindo para a maior frequência destes episódios de intolerância religiosa.

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