Aviso: há cada vez mais países a resistir às políticas verdes na Europa

Itália, Grã-Bretanha, Países Baixos, Polónia e Alemanha são alguns dos países que estão a recuar numa série de medidas que tinham sido aprovadas para travar a crise climática e proteger o ambiente.

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Em vários países, os partidos de defendem um menor esforço para proteger o ambiente estão a ganhar votos Carmen Martinez Torron/GettyImages

A Europa enfrenta uma crescente resistência às políticas de combate às alterações climáticas e de protecção do ambiente, o que faz com que a sua agenda verde comece a ficar desgastada com as graves ondas de calor e os incêndios florestais. Há cada vez mais países a resistir às políticas verdes, ou, simplesmente, a desistir. Em alguns casos, os partidos que se opõem às medidas de protecção que podem prejudicar a indústria e a agricultura estão a ganhar votos.

Eis alguns países onde o travão à "onda verde" é mais evidente:

Itália

O governo de direita da Itália, que tomou posse no final do ano passado, está a fazer recuar uma série de iniciativas da União Europeia destinadas a tornar a economia mais ecológica, argumentando que as empresas locais não podem suportar os objectivos de transição previamente acordados.

Desde então, a Itália exigiu que a UE diluísse uma directiva destinada a melhorar a eficiência energética dos edifícios, reescreveu os planos para eliminar gradualmente os automóveis com motor de combustão e questionou uma iniciativa para reduzir as emissões industriais.

De acordo com as políticas actuais, a Itália está atrasada em relação aos objectivos de descarbonização para 2030 estabelecidos pela UE, segundo um documento do Ministério da Energia do mês passado.

Ao mesmo tempo, o Governo prossegue com outros aspectos da agenda verde. No início deste mês, por exemplo, disse que queria utilizar o dinheiro da UE para um programa de investimento no valor de cerca de 19 mil milhões de euros para reforçar as redes de electricidade e gás e tornar a sua economia mais verde, como parte dos seus esforços para renovar os planos de utilização dos fundos da UE pós-covid.

Grã-Bretanha

A Grã-Bretanha perdeu a sua posição de líder mundial em matéria de acção climática e não está a fazer o suficiente para atingir o seu objectivo de emissões líquidas nulas em meados do século, afirmaram os conselheiros climáticos do país em Junho.

Os anúncios feitos no ano passado sobre novos projectos de combustíveis fósseis também mancharam a reputação do Reino Unido, segundo o relatório anual de progresso do Comité das Alterações Climáticas (CCC).

Uma análise separada, encomendada pelo governo, também revelou que as empresas se queixaram de deficiências no ambiente de investimento do Reino Unido, incluindo um compromisso político inconsistente.

Os progressos no domínio da energia eólica terrestre e marítima têm sido dificultados por alterações das regras, o que levou alguns promotores a avisar que terão dificuldade em investir na Grã-Bretanha sem melhores incentivos.

No mês passado, o primeiro-ministro Rishi Sunak alertou para as políticas climáticas que "dão desnecessariamente mais trabalho e mais custos às pessoas", dias depois de os seus conservadores, em dificuldades, terem inesperadamente conquistado uma eleição local após se terem oposto à aplicação de taxas aos veículos mais poluentes.

Em resposta às críticas à posição ambiental do seu governo, Sunak afirmou que o registo britânico de redução das emissões de carbono é melhor do que o de outros países importantes.

Países Baixos

O partido BBB ou BoerBurgerBeweging (Movimento dos Agricultores-Cidadãos), fundado em 2019 em oposição aos planos do governo para reduzir drasticamente a poluição por nitrogénio nas explorações agrícolas, teve uma ascensão meteórica ao segundo lugar nas sondagens.

Aproveitando uma onda de protestos contra as políticas ambientais do governo, venceu inesperadamente o partido conservador VVD nas eleições regionais de Março.

A última sondagem semanal realizada pelo investigador de mercado Ipsos, antes das eleições parlamentares de Novembro, coloca o BBB em segundo lugar, com cerca de 15% dos votos, apenas 3 pontos percentuais a mais do que o VVD.

A última sondagem semanal do investigador de mercado Ipsos, antes das eleições legislativas de Novembro, coloca o BBB em segundo lugar, com quase 15% dos votos, apenas 3 pontos percentuais atrás do VVD, que vai disputar a votação sem o primeiro-ministro Mark Rutte, pela primeira vez em mais de uma década.

A subida do BBB foi um duro golpe para o último governo de coligação, que se desmoronou em Julho.

Se o BBB obtiver ganhos significativos nas eleições nacionais, poderá colocar a política holandesa de redução do azoto em rota de colisão com a UE, que tem apoiado a acção.

Polónia

O Governo polaco, há muito conservador nas políticas ambientais nacionais e que enfrenta eleições em Outubro, deu um passo em frente ao processar Bruxelas.

Até agora, diz ter apresentado queixas no Tribunal de Justiça sobre a proibição de veículos a combustão em 2035, o aumento do objectivo de redução das emissões, a redução das licenças gratuitas de emissão de CO2 e o que chamou de interferência na gestão das florestas nacionais.

Perante a pressão dos sindicatos mineiros, a Polónia também adiou um plano para reduzir a sua dependência do carvão, baixando o estatuto da sua próxima actualização da política energética para uma simples "consulta".

Alemanha

A oposição a uma lei que prevê a eliminação progressiva do aquecimento a gás e a petróleo levou a coligação governamental alemã ao ponto de ruptura na primavera. Após semanas de disputas, a coligação concordou com alterações que enfraqueceram o projecto de lei original.

A polémica contribuiu para levar o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha ao segundo lugar nas sondagens. O partido contesta que a actividade humana seja a causa das alterações climáticas.

Segundo as sondagens, as iniciativas para reduzir o número de carros nas estradas das cidades-estado de Berlim e Bremen também afectaram o apoio aos Verdes nas eleições estatais deste ano.

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