Desesperado por água, Sumardi cava o leito de um rio seco

Os habitantes da aldeia onde vive Sunardi, na Indonésia, têm estado a escavar o leito do rio desde Junho. Desde Abril que não há chuva. O El Niño está a afectar mais de dois terços do país.

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Sunardi, um agricultor de tabaco de 52 anos, recolhe água turva para as necessidades diárias de um poço escavado à mão no leito seco de um rio, Reuters/HERU ASPRIHANTO

Já passaram quatro longos e quentes meses sem uma pinga de chuva na aldeia de Sunardi, com a seca induzida pelo El Niño a atingir a Indonésia, então o produtor de tabaco faz a única coisa que pode fazer para conseguir água: cavar o leito de um rio seco.

Dentro de uma ou duas horas, a água - salgada e lamacenta - enche o buraco acabado de cavar. Sunardi e muitos outros habitantes da aldeia de Karanganyar, na província de Java Central, levam a água para casa para beber, lavar e irrigar as suas culturas que estão a morrer lentamente.

"A seca nesta aldeia faz-se sentir desde Abril e até agora não choveu. Os poços desta zona secaram, pelo que os habitantes só podem obter água do leito do rio", disse Sunardi, que só usa um nome, à Reuters.

"As plantas aqui, como o milho, murcharam todas. O tabaco ainda resiste, mas não cresce da melhor forma, pelo que temos de continuar a regá-lo também com a água do leito do rio".

A aldeia de Sunardi tem estado a escavar o leito do rio desde Junho, quando a água dos seus poços secou.

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Mudar padrões de cultivo? É demasiado tarde

A agência meteorológica da Indonésia (BMKG) informou que o fenómeno climático El Niño, que provoca um tempo quente e seco prolongado, está a afectar mais de dois terços da vasta nação, incluindo toda a ilha de Java, as zonas setentrionais de Kalimantan e todas as zonas costeiras, excepto a de Sumatra.

A população dessas zonas ultrapassa 70% da população total da Indonésia, que é de mais de 200 milhões de pessoas, afirmou Ardhasena Sopaheluwakan, director-adjunto de climatologia do BMKG.

Segundo os cientistas, o El Niño provocou ondas de calor recorde em cidades como Pequim e Roma, aumentando o risco de incêndios florestais e afectando culturas como o trigo, o óleo de palma e o arroz.

A agricultura representa quase 14% do PIB da Indonésia e um terço da população activa trabalha na agricultura, segundo dados do governo.

Tris Adi Sukoco, um funcionário do BMKG em Java Central, disse que, com as taxas de precipitação na região drasticamente mais baixas, os aldeões como Sunardi deveriam alterar os seus padrões de cultivo.

O agricultor, porém, diz que é demasiado tarde. "Mesmo que o rio aqui esteja completamente seco, teremos de o encontrar onde quer que ele esteja", afirma.

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