OMS prepara-se para a propagação de doenças virais ligadas ao El Niño

Organização Mundial de Saúde diz que as alterações climáticas estão a alimentar a reprodução dos mosquitos. Os países europeus estão em risco de ter surtos de dengue, Zika e chikungunya.

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A incidência de dengue, transmitida através da picada do mosquito Aedes aegypti, tem aumentado Joao Paulo Burini/GettyImages

A Organização Mundial de Saúde (OMS) está a preparar-se para um aumento da propagação de doenças virais como dengue, Zika e chikungunya, relacionadas com o fenómeno climático El Niño, disse o director-geral da agência, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na quarta-feira.

O fenómeno El Niño, que consiste no aquecimento da temperatura da água à superfície no Oceano Pacífico oriental e central, regressou oficialmente após três anos de padrão climático La Niña. É provável que este ano se verifiquem condições meteorológicas extremas, desde ciclones tropicais que se dirigem para as ilhas vulneráveis do Pacífico, passando por chuvas intensas na América do Sul, até à seca na Austrália e em algumas partes da Ásia.

"A OMS está a preparar-se para a probabilidade muito elevada de 2023 e 2024 serem marcados por um evento El Niño, que poderá aumentar a transmissão da dengue e de outros arbovírus, como o Zika e o chikungunya", afirmou Ghebreyesus.

Em Abril, a OMS já tinha referido que os países europeus estão em risco de ter surtos de dengue, Zika e ​chikungunya à medida que as alterações climáticas aumentam o alcance dos mosquitos que transportam estas doenças.

Agora, Tedros Ghebreyesus insiste que as alterações climáticas estarem a alimentar a reprodução dos mosquitos e alertou para o facto de a incidência de dengue já ter aumentado muito nas últimas décadas, sobretudo nas Américas.

“As alterações climáticas têm desempenhado um papel fundamental para facilitar a propagação dos mosquitos no Sul”, disse, ainda em Abril, Raman Velayudhan, o chefe do programa global da OMS para o controlo das doenças tropicais negligenciadas, numa conferência de imprensa. “Quando as pessoas viajam, naturalmente o vírus vai junto com elas”, acrescentou o responsável.

Os dados mostram que, este ano, se registaram quase 442 mil casos de dengue só nas Américas, com cerca de 120 mortes. Metade da população mundial está agora em risco de contrair a doença, com cerca de 400 milhões de infecções por ano, de acordo com a OMS. O mesmo mosquito (do género Aedes) é um transmissor para as três doenças, e, por isso, este trio circula frequentemente em conjunto.

O aumento da precipitação, temperaturas mais elevadas e, em alguns casos, a escassez de água pode favorecer a proliferação dos insectos, explicou também Raman Velayudhan. Ainda assim, o responsável nota que já já várias “ferramentas em desenvolvimento, o que permite ter uma maior esperança na prevenção e controlo da dengue”.

Este ano, o Peru declarou o estado de emergência na maior parte das regiões e a ministra da Saúde, Rosa Gutierrez, demitiu-se na semana passada devido ao aumento dos casos de dengue. A doença é transmitida através da picada do mosquito Aedes aegypti e os sintomas incluem febre, dores nos olhos, cabeça, músculos e articulações, náuseas, vómitos e fadiga.

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