Oposição quer forçar Modi a quebrar silêncio sobre violência étnica em Manipur

Primeiro-ministro enfrenta uma moção de censura que marca o regresso de Rahul Gandhi ao Parlamento indiano. Agressões sexuais a mulheres e violência extrema duram há mais de dois meses em Manipur.

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As mulheres têm sido alvo de muita violência em Manipur, mas estão também na primeira linha dos confrontos étnicos ADNAN ABIDI/Reuters
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O Parlamento indiano começou a discutir uma moção de censura ao Governo de Narendra Modi um dia depois de o líder da oposição, Rahul Gandhi, ter reassumido o seu lugar como deputado. Esperava-se que Gandhi tomasse a palavra já nesta terça-feira, mas só deverá fazê-lo na quinta, quando também Modi se pronunciar.

Esta é a segunda vez em nove anos no poder que Narendra Modi enfrenta uma moção de censura, desta feita por causa dos violentos confrontos entre duas comunidades étnicas e religiosas no estado de Manipur, no Leste da Índia. Desde Maio, o conflito, que envolve pilhagens, casas incendiadas, destruição de igrejas, violações, agressões e decapitações, já provocou mais de 200 mortos e forçou a deslocação de dezenas de milhares de pessoas das suas casas.

O estado de Manipur é governado pelo BJP, o partido de Modi, e a maioria dos seus habitantes é de etnia meitei, de religião hindu, seguindo-se os kuki, sobretudo cristãos, como segunda maior comunidade. As tensões entre ambas são históricas e têm múltiplas razões, mas exacerbaram-se quando os meitei, já bastante influentes no governo estadual, tentaram obter um estatuto que lhes garantia acesso preferencial a empregos públicos e terrenos em zonas predominantemente habitadas pelos kuki.

Em meados de Julho, surgiu nas redes sociais um vídeo que mostrava duas mulheres de etnia kuki a serem despidas à força, arrastadas pela rua e apalpadas. Líderes tribais de Manipur alegaram que ambas foram vítimas de uma violação colectiva.

Foi só então que Modi se pronunciou pela primeira vez sobre o que se passava naquele estado, mais de dois meses depois de a violência ter irrompido, afirmando que o episódio “envergonhava a Índia” e garantindo que “nenhum culpado será poupado”.

A oposição acusa-o de ser cúmplice com a violência e foi por isso que o Congresso Nacional Indiano, partido de Rahul Gandhi, decidiu avançar com uma moção de censura. Apesar de não ter qualquer hipótese de ser aprovada, uma vez que o BJP tem uma maioria confortável na câmara, a moção força o primeiro-ministro a pronunciar-se publicamente. Isso deverá acontecer na quinta-feira.

“Porque é que o primeiro-ministro ainda não se deslocou a Manipur? Porque é que só falou do assunto ao fim de 80 dias?”, questionou o líder da bancada do Congresso no Parlamento, Gaurav Gogoi. Já o BJP tentou cavalgar o inesperado silêncio de Gandhi, que foi anunciado como primeiro interveniente do debate mas acabou por mudar de ideias. “Provavelmente levantou-se tarde”, ironizou o deputado Nishikant Dubey.

Num encontro à porta fechada com deputados do seu partido, e relatado pelo Hindustan Times, Modi terá desvalorizado a moção de censura, dizendo que o seu único propósito é testar a confiança entre as forças políticas que integram a recém-formada aliança INDIA, que integra 26 partidos da oposição. Embora com o mesmo objectivo comum de afastarem o BJP do poder, as formações têm origens, interesses e metas muito díspares e nem sequer é certo que se consigam entender quanto à nomeação de um candidato de unidade para as próximas eleições legislativas, a realizar em 2024.

Visto como o principal opositor a Modi, Rahul Gandhi foi um dos grandes impulsionadores da aliança e recuperou na segunda-feira o seu lugar parlamentar depois de o Supremo Tribunal ter suspendido uma pena de dois anos de prisão que lhe foi aplicada num processo por difamação.

Depois de ter percorrido a Índia de sul para norte entre Setembro do ano passado e Janeiro deste ano, Gandhi vai brevemente voltar à estrada para a segunda etapa da sua yatra Bharat Jodo (Jornada Unir a Índia). Desta vez andará de ocidente para oriente, entre os estados de Gujarat, na costa do Índico, e Meghalaya, na fronteira com o Bangladesh.

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