Duas mulheres violadas e obrigadas a desfilar nuas durante confrontos na Índia

Vídeo divulgado nas redes sociais mostra duas mulheres, que terão sido violadas por um grupo de homens, a desfilarem nuas em Manipur, no Nordeste indiano. Dois suspeitos já foram detidos.

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Primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, condenou o episódio EPA/HARISH TYAGI

O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, condenou, esta quinta-feira, as alegadas agressões sexuais a duas mulheres em Manipur, num quadro geral de violência étnica, considerando os actos "vergonhosos" e prometendo uma punição severa.

Modi, que não fez quaisquer comentários directamente sobre os confrontos étnicos no Nordeste remoto do país, que já fizeram pelo menos 125 mortes no estado governado pelo partido nacionalista Hindu, BJP, do qual faz parte, falou um dia depois de serem revelados, nas redes sociais, vídeos que mostram duas mulheres a desfilarem nuas e a serem apalpadas e agredidas numa rua.

As duas mulheres, segundo a BBC, serão de etnia kuki e foram agredidas por homens de etnia meitei. O Fórum de Líderes Indígenas Tribais disse, em comunicado citado pela cadeia televisiva britânica, que as duas mulheres terão sido violadas por um grupo de homens.

"O meu coração está cheio de dor, de raiva", disse Modi, no fim dos comentários habituais que costuma fazer no início de cada sessão parlamentar. "Este incidente em Manipur é vergonhoso em qualquer sociedade civil."

"O que aconteceu às filhas de Manipur não pode ser perdoado", afirmou, exortando aos primeiros-ministros de todos os estados indianos para fortalecerem o cumprimento da lei.

Depois de Modi concluir o seu comunicado, o primeiro-ministro de Manipur, Biren Singh, fez uma publicação na rede social Twitter na qual afirmou que a polícia estadual tinha feito as primeiras detenções no caso. "Está a ocorrer uma investigação e asseguramos que vão ser tomadas acções firmes contra os culpados, o que inclui a possibilidade de pena capital", disse Singh, que tem sido acusado por grupos de direitos humanos e pelos deputados do BJP de falhar no combate à violência étnica.

Aos jornalistas, Singh disse que duas pessoas - incluindo o principal suspeito - foram detidas pela polícia de Manipur. As autoridades já abriram um processo de investigação por violação em grupo e terão interrogado mais de 36 homens. Dados preliminares da investigação apontam que a agressão às duas mulheres terá ocorrido em Maio, mas os vídeos das vítimas a serem arrastadas, agredidas e a desfilarem nuas tornou-se viral esta quarta-feira, disse a polícia.

O Supremo Tribunal da Índia sublinhou o carácter perturbador das imagens e pediu ao governo para informar o tribunal dos passos tomados para prender os culpados e assegurar que estes incidentes não se repetem. "Numa democracia constitucional, isto é inaceitável", afirmou D.Y. Chandrachud, juiz do Supremo.

Os confrontos em Manipur começaram no início de Maio, com períodos de calma a intercalarem episódios de violência e assassinatos. O estado indiano, habitado por mais de três milhões de pessoas e com fronteira partilhada com Myanmar, permaneceu tenso desde então. Centenas de pessoas ficaram feridas em confrontos e já mais de 40 mil fugiram de suas casas.

A onda de violência começou depois de a justiça ter ordenado ao governo estadual para ponderar alargar os benefícios económicos especiais e as quotas em empregos públicos e estabelecimentos de ensino reservados a membros da minoria kuki à maioria da população meitei, gerando tensão entre os dois grupos.

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