Ucrânia promete “mais guerra” depois de novo ataque com drones a Moscovo

Coração da capital russa novamente atingido. Kiev nega responsabilidade mas deixa recado: “Moscovo está a habituar-se rapidamente a uma guerra total”.

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O drone atingiu o 21.º andar do edifício onde estão instalados três ministérios Reuters/EVGENIA NOVOZHENINA
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Pela segunda vez em três dias, os moscovitas viram a capital da Rússia ser alvo de um ataque quando um edifício onde estão instalados três ministérios foi atingido por um drone. Um “ataque terrorista”, apressou-se a acusar o Kremlin, mas Kiev, como tem sido habitual, não reclamou para si a responsabilidade, dizendo que Moscovo deve preparar-se para mais ataques de drones e “mais guerra”, nas palavras do conselheiro presidencial ucraniano, Mykhailo Podolyak.

A capital russa tem sido alvo de repetidos ataques com recurso a veículos aéreos não tripulados desde o início de Maio, quando dois drones “kamikaze” atingiram o telhado de um edifício situado no complexo do Kremlin. Os incidentes não causaram vítimas ou danos importantes, mas levaram a guerra até ao centro do poder da Federação Russa e deitaram por terra a narrativa do Presidente Vladimir Putin de que a “operação militar especial” na Ucrânia prossegue de acordo com o plano.

“De facto, existe uma ameaça, é óbvio, mas estão a ser tomadas medidas”, admitiu o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, recusando-se a fazer mais comentários.

O edifício atingido esta terça-feira é conhecido como o “quarteirão QI” e alberga o Ministério do Desenvolvimento Económico, o Ministério do Desenvolvimento Digital e o Ministério da Indústria e Comércio. Um vídeo obtido pela Reuters mostrava que parte da fachada de vidro, muito acima do solo, tinha sido destruída pelo impacto do drone.

O estado de espírito dos moscovitas após o segundo ataque em três dias ficou à vista nas declarações de Alexander Gusev, residente de 67 anos, à agência Reuters: “Nesta situação, qualquer lugar pode ser atingido, por isso é muito difícil sentirmo-nos 100% seguros, porque não sabemos o que nos vai atingir e onde.”

Através de um comunicado, o Ministério da Defesa russo disse ter frustrado a “tentativa de ataque terrorista”, informando que abateu outros dois drones a oeste do centro da capital da Rússia.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros foi ainda mais longe, fazendo a comparação com os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque. “A mesma imagem, parece que se repete”, disse Maria Zakharova ao canal Soloviev Live TV.

Já o presidente da câmara de Moscovo, Serguei Sobyanin, precisou que o drone atingiu a mesma torre que tinha sido atacada no domingo. “A fachada foi danificada no 21.º andar. Os vidros foram destruídos em mais de 150 metros quadrados”, afirmou.

“Íamos ver a torre onde se deu o ataque de anteontem... De repente, houve uma explosão e corremos imediatamente. Havia vidros partidos e muito fumo. Depois, os serviços de segurança começaram a correr naquela direcção”, disse outra testemunha à Reuters.

“Mais guerra”

Como aconteceu nas ocasiões anteriores, a Ucrânia não reivindicou a autoria do ataque. Mas os responsáveis ucranianos não esconderam, tal como nos outros ataques, a sua satisfação. Desta vez, foi Mykhailo Podolyak, conselheiro do Presidente Volodymyr Zelensky, quem “comentou” o ataque desta terça-feira.

“Moscovo está a habituar-se rapidamente a uma guerra total, que, por sua vez, em breve se deslocará finalmente para território dos ‘autores da guerra’ para cobrar todas as suas dívidas”, escreveu Podolyak no Twitter (agora conhecido como X). “Tudo o que vai acontecer na Rússia é um processo histórico objectivo. Mais drones não identificados, mais colapso, mais conflitos civis, mais guerra…”, acrescentou o conselheiro de Zelensky.

Há sinais de que este tipo de ataques está a causar alguma preocupação entre as empresas russas. Depois de o primeiro drone ter atingido o centro de Moscovo, no domingo, a empresa de tecnologia Yandex enviou um memorando aos funcionários dando-lhes instruções para não permanecerem nos escritórios à noite e pedindo-lhes para terem “cuidado”.

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