Sol e margarita: uma dupla a evitar no Verão

Além das queimaduras solares, existem outras menos conhecidas, como a fitofotodermatite, resultado do ácido existente nos citrinos e não só.

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As bebidas, como margaritas e cocktails, podem ser a origem de queimaduras no Verão Duarte Drago/Arquivo
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Verão é sinónimo de sol, calor e de dias que convidam a bebidas frescas, das limonadas às laranjadas, passando pelas margaritas. Contudo, há substâncias químicas nos citrinos que podem contribuir para uma queimadura solar, alertam os especialistas.

Ao PÚBLICO, Juan Ocaña, coordenador de Dermatologia do Hospital CUF Tejo, em Lisboa, e a dermatologista Helena Toda Brito explicam o que são as queimaduras solares, as suas consequências e como evitá-las.

O que é uma queimadura provocada por citrinos?

Também conhecido por fitofotodermatite, as plantas mais comuns que causam queimaduras são o aipo, hortaliça e salsa, bem como os citrinos (limões, laranjas e limas). Helena Toda Brito realça que se trata de uma reacção fototóxica que ocorre quando há exposição solar após contacto da pele com citrinos e outras frutas ou plantas que contêm furocumarina. “Manifesta-se clinicamente como uma queimadura solar, ou seja, inflamação local, vermelhidão, dor, bolhas”.

Juan Ocanã refere que quem prepara bebidas ao ar livre como margaritas ou cocktails, é "mais propenso" a apanhar uma queimadura. É mais frequente no final do Verão e no Outono, aparecendo entre 30 minutos e duas horas depois de ter estado em contacto com o agente, "o que causa muita dor”. O dermatologista sublinha ainda que, em situações onde uma pessoa possa ter estado em contacto com a furocumarina e ter tocado noutra, essa poderá ficar com manchas.

Como se trata a fitofotodermatite?

Normalmente, a fitofotodermatite é resolvida com a remoção do agente causador, a furocumarina. “O tratamento consiste na aplicação de compressas frias (para alívio da dor), creme reparador e reforço das medidas de protecção solar. Em casos extensos ou graves, deve ser procurada ajuda médica, podendo estar indicada terapêutica adicional”, explica Helena Toda Brito.

Quais as consequências e como evitar?

Os sintomas aparecem após a exposição solar, com lesões que não causam comichão, mas que são eventualmente dolorosas. “A consequência mais frequente é a hiperpigmentação pós-inflamatória (a pele adquire uma tonalidade mais escura, como consequência do processo inflamatório), que pode persistir semanas a meses”, descreve Helena Toda Brito, recomendando que se lave cuidadosamente a pele com água e sabão após o contacto com citrinos.

Juan Ocaña reforça que “dependendo da intensidade da queimadura, é importante utilizar um líquido frio ou um corticóide para acalmar a intensidade da dor", explicando que é mais difícil tratar quando há manchas visíveis.

Que outros tipos de queimaduras existem?

Helena Toda Brito explica que existe fotossensibilidade induzida por medicamentos, que consiste no desenvolvimento de reacções fototóxicas ou foto alérgicas devido à toma ou aplicação de medicamentos fotossensibilizantes como, por exemplo, alguns antibióticos e a subsequente exposição à radiação solar.

A principal diferença visual entre as duas reacções é que, nas fototóxicas, estas tendem a ser vistas como queimaduras solares graves, sendo restritas principalmente à pele exposta ao sol, enquanto as reacções foto alérgicas parecem-se mais com dermatite atópica e a reacção pode passar da pele exposta ao sol para áreas não expostas. “Nos pacientes medicados com fármacos fotossensibilizantes, pode estar indicado apenas o reforço das medidas de protecção solar”, diz.

Juan Ocanã exemplifica: “A partir do final do Verão e no início do Outono, temos pessoas que trabalham no campo e na agricultura e que aparecem com manchas nas pernas, nas mãos, no tronco e que se parecem com feridas, resultado do contacto que tiveram com plantas como as folhas de figueira ou o aipo.”

Como evitar estas queimaduras?

É importante confirmar com o médico se algum dos fármacos que está a tomar ou a aplicar poderá ser fotossensibilizante. A esses doentes “pode estar indicado o reforço das medidas de protecção solar ou, eventualmente, a suspensão temporária e/ou substituição por outros fármacos (apenas sob indicação médica), durante o período de maior exposição solar”, avança a dermatologista.

Para quem tem um historial de doenças de pele, o que fazer?

Para quem tem doenças de pele, como dermatite atópica ou psoríase, recomenda-se maior cuidado maior. Nesses casos, “necessita de redobrar os cuidados. As pessoas que têm alguma doença e trabalham em contacto com plantas, têm de ter mais cuidado, como tapar a boca e o nariz ou usar umas calças mais compridas para que nada entre em contacto com a pele”, reforça Juan Ocanã.

Como se trata uma queimadura solar?

As queimaduras solares acontecem depois de uma a seis horas exposto aos raios ultravioleta (UVA), sem protecção, atingindo o nível máximo depois de 24 horas. Tal como todas as queimaduras, a solar divide-se em três níveis: o primeiro grau apresenta sintomas de pele vermelha, quente e ardente; já no segundo grau a pessoa começa a sentir dor, inchaço e bolhas; e, no terceiro grau, aparecem bolhas mais intensas.

É essencial suspender de imediato a exposição solar, arrefecer rapidamente a pele com água fria, hidratando de seguida com um creme hidratante de textura leve, que contenha ingredientes anti-inflamatórios como aloé vera, recomenda Helena Toda Brito, acrescentando que "é importante reforçar a ingestão de líquidos, para prevenir a desidratação como consequência da queimadura solar”.

Nos casos mais graves "pode ser necessário procurar ajuda médica e fazer medicação para ajudar a reduzir a inflamação”, diz ainda. O coordenador de Dermatologia do Hospital CUF Tejo acrescenta que “dependendo da intensidade, existem queimaduras mais intensas que têm de ser tratadas com um corticóide tópico”.

Quais as consequências de uma queimadura solar?

Embora pareçam inofensivas para algumas pessoas, o excesso de exposição solar pode provocar lesões que vão além da questão estética. Dor, ardência, sensação de queimar, comichão, descamação e bolhas são alguns dos sintomas. Além disso, a sensibilidade e comichão podem persistir por vários dias.

Em caso de queimaduras solares graves, os sintomas são mais sérios já que os doentes podem apresentar um quadro de febre, calafrios e fraqueza. Raramente, podem até entrar em choque, causa de uma hipotensão arterial.

Helena Toda Brito explica que, a curto prazo, a pele fica vermelha, inchada, dorida ao toque e, por vezes existe hiperpigmentação (pele com tonalidade mais escura). “A longo prazo, há um aumento do risco de cancro de pele e envelhecimento acelerado da pele.”

“Pessoas que são mais morenas têm uma defesa natural, enquanto as pessoas com peles claras são mais susceptíveis a desenvolver alguma doença de pele. Quando são crianças, mais graves são as consequências”, sublinha Juan Ocaña.

Como evitar uma queimadura solar?

A forma de prevenir estas queimaduras é o uso do protector solar, sendo que os recomendados são os que têm factor 30 ou mais. “Existem produtos fotoprotectores que protegem contra o UV, o factor 50+ é o mais recomendado”, informa Juan Ocaña.

“Evitar a exposição directa ao sol nas horas de maior intensidade da radiação ultravioleta, sobretudo entre as 12h e as 16h, idealmente entre as 11h e as 17h”, acrescenta Helena Toda Brito. A dermatologista recomenda que o protector solar seja resistente à água e seja aplicado em quantidade suficiente em todas as áreas expostas, reaplicando frequentemente ao longo do dia.

É aconselhado usar roupas leves, claras e não muito apertadas, e beber líquidos. É também recomendado evitar ficar muito tempo no carro em dias de muito calor e, de preferência, consumir alimentos leves, como frutas e vegetais.


Texto editado por Bárbara Wong

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