Novo medicamento para Alzheimer pode retardar a doença, mas com riscos

O medicamento tem como alvo os aglomerados de proteínas conhecidas como placas amilóides, um dos principais responsáveis pela doença de Alzheimer. O ensaio clínico envolveu 1700 doentes.

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Os investigadores monitorizaram também os níveis da proteína tau Reuters/BRIAN SNYDER

Um novo medicamento experimental para o tratamento de Alzheimer pode retardar o agravamento da doença entre quatro a sete meses, segundo um estudo divulgado nesta segunda-feira, que aponta, no entanto, para o risco de danos cerebrais.

O fármaco, chamado donanemab, está a ser desenvolvido pela farmacêutica Eli Lilly, que já solicitou a aprovação por parte da agência federal norte-americana para os medicamentos (FDA, na sigla em inglês).

Em Maio, a Lilly já tinha anunciado que o donanemab parecia funcionar, mas os resultados finais de um ensaio clínico que envolveu 1700 doentes só foram publicados nesta segunda-feira pela revista científica Journal of the American Medical Association e apresentados numa conferência da Associação Internacional de Alzheimer em Amesterdão.

À semelhança do fármaco Leqembi, produzido pela farmacêutica japonesa Eisai e recentemente aprovado, o donanemab é composto por anticorpos produzidos em laboratório, administrados por via intravenosa e que têm como alvo um dos principais responsáveis pela doença de Alzheimer – os aglomerados de proteínas conhecidas como placas amilóides.

Os dois fármacos têm também uma contra-indicação séria: a possibilidade de inchaço ou hemorragia cerebral, que no estudo da Lily foi associada a três mortes, sendo que cerca de um quarto dos doentes apresentou sinais de inchaço e 20% teve micro-hemorragias.

Apesar de reconhecerem que estes medicamentos representam uma nova era no tratamento de Alzheimer, os cientistas admitem haver ainda muitas questões sobre o perfil dos pacientes em que devem ser testados e o nível do benefício.

"Provavelmente, os benefícios modestos não seriam questionados por pacientes ou médicos se os anticorpos fossem de baixo risco, baratos e simples de administrar, mas não são nada disso", escreve o médico Eric Widera, da Universidade da Califórnia, em São Francisco, no editorial do Journal of the American Medical Association.

O estudo envolveu pessoas entre os 60 e 85 anos, que estavam ainda numa fase precoce da doença. Os 1700 doentes foram divididos em dois grupos, em que metade recebeu infusões mensais do donanemab e a outra metade infusões-placebo, ao longo de 18 meses.

Além das placas amilóides, os investigadores monitorizaram os níveis da proteína tau, também responsável pela Alzheimer.

De acordo com os resultados, os dois grupos pioraram ao longo dos 18 meses, mas a evolução foi cerca de 22% mais lenta naqueles que receberam donanemab, sendo que o medicamento parece funcionar melhor nos estágios iniciais da doença, uma vez que os doentes com níveis baixos a médios de tau tiveram um declínio 35% mais lento.

Significa que o donanemab atrasou entre quatro a sete meses o declínio do estado de saúde dos doentes. Entre os doentes a quem foi administrado o medicamento, 47% foram considerados estáveis um ano após o início do estudo, comparado com os 29% do outro grupo.

Se aprovado, será o segundo tratamento para a doença de Alzheimer comprovadamente capaz de retardar os sintomas da doença neurodegenerativa, depois de a FDA ter autorizado, no início do mês, a utilização do Leqembi.

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