Descoberto “relógio interno” do cérebro que abre caminho a maior percepção do tempo

Sabe-se muito menos sobre a forma como o corpo mede o tempo na escala de segundos a minutos, na qual se desenvolve grande parte dos comportamentos diários.

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Neurocientistas da Fundação Champalimaud descobriram um "relógio interno" do cérebro, que abre caminho a uma maior percepção do tempo e que pode fazer "avançar o desenvolvimento de novos alvos terapêuticos" para doenças como a Parkinson e Huntington.

Neste novo estudo do Laboratório de Aprendizagem da fundação Champalimaud, publicado esta quinta-feira na revista científica Nature Neuroscience, os investigadores conseguiram fazer abrandar ou acelerar artificialmente os padrões de actividade neural em ratazanas, distorcendo a sua avaliação da duração do tempo e fornecendo as "provas causais mais convincentes até agora sobre a forma como o relógio interno do cérebro orienta o comportamento", adianta a fundação num comunicado sobre o estudo.

O tempo na escala de segundos a minutos

"Em contraste com os mais familiares relógios circadianos, que regem os nossos ritmos biológicos de 24 horas e moldam a nossa vida quotidiana, dos ciclos de sono-vigília ao metabolismo, sabe-se muito menos sobre a forma como o corpo mede o tempo na escala de segundos a minutos", refere o comunicado.

Perante isso, a equipa de neurocientistas centrou a sua investigação nesta escala temporal, na qual se desenvolve grande parte dos comportamentos diários. Na prática, os investigadores treinaram ratazanas para distinguir entre diferentes intervalos de tempo e descobriram que a actividade no estriado, uma região profunda do cérebro, segue padrões previsíveis que se alteram a diferentes velocidades.

"Quando os animais reportam um determinado intervalo de tempo como sendo mais longo, a actividade evolui mais rapidamente; e quando o reportam como sendo mais curto, a actividade evolui mais lentamente", adiantam as conclusões da investigação.

Para estabelecer a causalidade, a equipa recorreu a uma técnica já utilizada por neurocientistas, a temperatura, de maneira a alterar a velocidade da dinâmica neural sem perturbar o seu padrão.

Para testar esta ferramenta em ratazanas, desenvolveram um dispositivo termoeléctrico personalizado para aquecer ou arrefecer o estriado de forma focal, registando simultaneamente a actividade neural.

"Tivemos o cuidado de não arrefecer demasiado a área, pois isso iria interromper a actividade, nem de a aquecer demasiado, correndo o risco de provocar danos irreversíveis", adiantou Margarida Pexirra, uma das autoras principais do estudo.

"A temperatura deu-nos um botão para esticar ou contrair a actividade neural no tempo, pelo que aplicámos esta manipulação no contexto do comportamento", explicou Filipe Rodrigues, outro autor principal do estudo.

Ao fornecer novos conhecimentos sobre a relação causal entre a actividade neural e a função de temporização, os resultados desta investigação, segundo o comunicado, "podem fazer avançar o desenvolvimento de novos alvos terapêuticos para doenças debilitantes como as doenças de Parkinson e Huntington, que envolvem sintomas relacionados com o tempo e um estriado comprometido".

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