Soares da Costa será liquidada, com Estado e bancos à frente dos credores

Construtora centenária acumulou dívidas superiores a 550 milhões de euros, dos quais 186,2 milhões de euros à CGD.

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Com sede no Porto, a Soares da Costa chegou ao topo das construtores nacionais Nelson Garrido

A Soares da Costa, fundada em 1918, chegou a ser a maior construtora do país e a ter uma forte presença em Angola, mas as últimas duas décadas foram de agonia financeira, passando por vários proprietários, incluindo angolanos, até à decisão final: a liquidação.

A assembleia de credores da construtora aprovou esta sexta-feira, em Vila Nova de Gaia, a liquidação dos poucos activos que ainda tem, avaliados em cerca de 20 milhões de euros, para dívidas superiores a 550 milhões de euros.

A proposta de liquidação foi feita pelo administrador judicial: "A proposta do administrador judicial, que sou eu, é no sentido de passarmos de imediato à liquidação do activo, tendo em conta que com o produto da venda dos activos que foram quantificados em perto de 20 milhões de euros, consigamos, num curto espaço de tempo, ressarcir a maior parte dos credores", disse hoje aos jornalistas, no Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia (distrito do Porto), Francisco Areias Duarte.

Segundo o relatório do administrador, “à data da insolvência, a empresa tinha cerca de 380 trabalhadores ao serviço” sendo que, explicou, como não foi apresentado um plano de recuperação, “todos os trabalhadores foram despedidos”.

O administrador judicial frisou que "a maior parte dos credores são os trabalhadores, e todos estes activos, ou quase todos, serão para liquidar os créditos dos trabalhadores, que já há muito tempo estão a sofrer com esta situação", sendo mais de 1200 os que reclamam créditos.

"Há vários anos que a empresa não labora, propriamente dito, e então é urgente que se passe à liquidação do activo e que possamos ressarcir os credores, fundamentalmente os credores trabalhadores", vincou.

Nas suas conclusões, e depois de examinar a situação da empresa, o administrador de insolvência disse que “a aprovação de um plano de insolvência não se afigura viável”, indicando que “o encerramento da empresa é irreversível” e recomendando que “se deve passar de imediato à liquidação do activo, dada a existência de créditos a cobrar sobre clientes”.

Dívidas aos Estado de 212,5 milhões

Os maiores credores da construtora Soares da Costa são o Estado e os bancos, que reclamam mais de 550 milhões de euros. Só do universo do Estado são 212,5 milhões de euros de créditos.

Individualmente, o maior credor é a Caixa Geral de Depósitos (CGD), com 186,2 milhões de euros, seguida do BCP, com uma dívida de 106,9 milhões de euros. O terceiro lugar é ocupado pelo BPI, instituição que reclama 40,9 milhões de euros e o quarto é o Bankinter, com 22,8 milhões de euros.

Na lista de credores, com quase 600 páginas, contam-se ainda outras instituições bancárias, como o Abanca, com uma dívida de quase 10 milhões de euros, e o BIC (agora EuroBIC) credor de mais de 11 milhões de euros. E o Santander Totta, que reclama quase sete milhões de euros.

O quinto maior credor da Soares da Costa é a Segurança Social, com uma dívida de 20,5 milhões de euros, a que acresce ainda dívidas à Autoridade Tributária de 5,8 milhões de euros.

Em 13 de Maio, já tinha sido proferida pelo Tribunal do Comércio de Vila Nova de Gaia uma sentença de declaração de insolvência, depois de a empresa já ter tentado vários processos de recuperação nos últimos anos.

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