Na Quinta do Pombal transforma-se a amêndoa transmontana para dar-lhe mais valor

Alexandra e Christophe pegaram na amêndoa de Vila Flor, na Terra Quente Transmontana, e resolveram transformá-la para criar produtos de valor acrescentado, como a manteiga ou amêndoas de chocolate.

Foto
Alexandra Araújo fundou com o marido a Quinta do Pombal onde produzem amêndoa, mel e mirtilos Paulo Pimenta
Ouça este artigo
00:00
03:04

Num canto da sala, uma tômbola vai girando as amêndoas para envolvê-las em camadas e camadas de fino chocolate negro. Se fosse para cobri-las de chocolate branco e coco ou de sal e pimenta, teriam de ser peladas primeiro, mas neste caso ou na versão caramelizada com mel e canela, as amêndoas mantêm todas as “propriedades nutritivas” concentradas na pele. “Daí também fazermos a manteiga de amêndoa com pele”, conta Alexandra Araújo.

As embalagens de amêndoa coberta, para já com quatro sabores disponíveis, são a mais recente aposta da Quinta do Pombal, um projecto lançado em 2013 por Alexandra e o marido, Christophe Monteiro. Os dois cresceram “de pequeninos com amêndoas”, recorda. Os avós ainda varejavam o fruto à mão sobre os toldos. Tiravam-lhe a capa verde, secavam e vendiam a amêndoa ainda com a casca dura castanha a cooperativas e comerciantes. Apesar de as máquinas vibratórias terem vindo facilitar a apanha, a maioria dos produtores em Vila Flor, na Terra Quente Transmontana, ainda vende a amêndoa com casca a revendedores. Alexandra e Christophe quiseram inovar.

“Na altura, o meu marido ficou desempregado e decidimos fazer um projecto. Adquirimos o terreno, porque não foi herdado, e fizemos tudo de raiz, passo a passo.” Ao início, eram 0,5 hectares de plantação de mirtilos, que mantiveram; 4,5 hectares de amendoeiras e 45 colmeias. Hoje, são 14 hectares de amendoal e mais de 100 colmeias. Além de mel e compotas decidiram apostar, sobretudo, na transformação da amêndoa para “ter mais rentabilidade” a partir de um produto “que a região tão bem cultiva”, conta Alexandra, enfermeira de profissão, enquanto Christophe dedica-se “a 100% à agricultura”.

Começaram por britar a amêndoa para vender o miolo e derivados, como a farinha e a manteiga. Em 2020, lançaram as primeiras amêndoas cobertas. Além de venderem em Vila Flor e directamente ao consumidor através das redes sociais, os produtos estão em algumas lojas de Vila Real, Braga e Porto, e já exportaram para Angola e França, por exemplo. Por ano, chegam a transformar entre “40 a 50 toneladas” de amêndoa, tanta que começaram a comprar parte aos produtores locais para cobrir a procura. “Podemos dizer que é 100% de Vila Flor”, garante Alexandra.

“Os agricultores depois também têm essa necessidade de escoar o produto, por isso acabamos por ser uma retaguarda”, sublinha a proprietária, para quem a transformação da amêndoa, sem tradição no concelho, veio criar novas oportunidades. “Cresci aqui, estudei fora, mas voltei e o mesmo aconteceu com o meu marido, porque gostamos da nossa terra, das nossas gentes. Se gostamos de viver aqui porque não investir?”, atira. A Quinta do Pombal nasce desse amor pelo território e da vontade de dar aos filhos “outra qualidade de vida”.

Com a Rota Saber Fazer, o projecto abre-se também ao público, com workshops sobre o processo, passeio pelas paisagens do amendoal e, na época, a possibilidade de participar na apanha do mirtilo ou da amêndoa. “Claro que tencionamos crescer muito mais, mas um passo de cada vez.”

Sugerir correcção
Ler 1 comentários