Suzana Nunes desenvolve membranas para ajudar o ambiente: “É a minha forma de contribuir”

Cientista brasileira quer contribuir para um mundo mais sustentável através do desenvolvimento de filtros que conseguem separar moléculas. Podem ser usados na indústria farmacêutica e petroquímica.

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Suzana Nunes é cientista na Arábia Saudita DR
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Suzana Nunes sente orgulho em ser cientista. A investigadora brasileira a trabalhar na Arábia Saudita considera que o seu caminho na ciência “tem sido lindo. Mas também sente que o seu caminho pode ser percorrido por todos: “A ciência não tem género ou fronteiras”, disse no discurso da entrega do prémio internacional “Para Mulheres na Ciência”, atribuído pela Fundação L’Oréal e a UNESCO, numa cerimónia que se realizou na sede da UNESCO, em Paris.

A investigadora foi uma das cientistas distinguidas de um prémio que pretende dar visibilidade ao papel da mulher na ciência. Suzana Nunes foi distinguida por estar a desenvolver membranas que funcionam como filtros de uma forma sustentável, podendo ser usados nas indústrias petroquímicas e farmacêuticas. O ambiente tem sido a sua missão como cientista, como também destacou no seu discurso: “A minha forma de contribuir é desenvolver tecnologia para facilitar a transição para um mundo mais sustentável. Temos de agir o mais depressa possível. É importante que juntemos soluções de diferentes países e ideias de homens e mulheres.”

A sua ideia têm sido as membranas. Neste momento, a cientista tem estado a desenvolver membranas, que são filtros muito finos que conseguem separar moléculas, permitindo assim a filtração. O seu grande objectivo é que esses filtros sejam sustentáveis e que possam ajudar a tornar o mundo mais sustentável. Como tal, as membranas que está a investigar serão usadas na indústria química, farmacêutica e petroquímica.

As membranas que está a desenvolver ainda não estão a ser comercializadas, mas a cientista dá um exemplo de algumas que já o estão a ser há algum tempo. “Uma [membrana] que já está a ser usada, que não fui eu que desenvolvi, é a membrana para separação de água do mar para dessalinização de água”, indica ao PÚBLICO, já depois da cerimónia do prémio. “Já é algo que vem sendo usado há décadas e 60% da água da Arábia Saudita está ligada a essas membranas – separam água de sal.”

Neste momento, no seu laboratório, está a tentar criar membranas mais estáveis para que possam ser usadas na indústria química. “Na indústria química, metade da energia utilizada é para separações, tanto de fármacos, como de petróleo”, nota a química brasileira. “Precisamos de métodos com menor uso de energia e mais limpos para a poluição.”

Combater a poluição é actualmente uma das suas missões científicas: “Neste momento, é muito importante que várias áreas da ciência contribuam para que haja uma solução ambiental. Sou química e a maneira que encontro é o desenvolvimento de membranas.”

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Cerimónia de entrega dos prémiointernacional “Para Mulheres na Ciência”: Suzana Nunes é a terceira a contar da direita Julien KNAUB

Há 13 anos que Suzana Nunes vive na Arábia Saudita. Antes disso, iniciou a sua carreira no Brasil e ainda trabalhou na Alemanha. Quando teve conhecimento de uma recém-fundada universidade de ciência e engenharia na Arábia Saudita, decidiu experimentar um novo desafio científico.

E como é hoje ser uma mulher na ciência na Arábia Saudita? A química conta que tem várias mulheres no seu grupo de investigação e que, na sua universidade, 39% do total de estudantes são mulheres. Como assinala que a sua universidade é “só de ciência e engenharia”, este número “já é muito bom”. “Ser mulher na ciência devia ser algo natural. Precisamos fazer propaganda disso. Temos de mostrar que é um caminho natural.”

Quanto ao seu próprio percurso, diz, a rir, que tem enfrentado os desafios que vão aparecendo porque é muito teimosa. “Motivo-me muito com os desafios. Se vejo que há algo que me está a impedir de ir para um caminho, vou encontrar um outro caminho.” Por isso, é esta a mensagem que deixa a jovens cientistas: “Não se deixem ir abaixo [se houver algum obstáculo]. Há algo a acontecer que não é exactamente aquilo que se quer, mas continuem e vão em frente. Isso deve ser uma motivação.”

Agora, o prémio “Para Mulheres na Ciência” foi uma motivação para si e, espera, que para outras mulheres também. “As mulheres estão em número menor na ciência. Um prémio como este ajuda muito.”


A jornalista viajou a convite da L’Oréal

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