Risco de crédito das famílias aumenta no primeiro trimestre

O rácio de crédito malparado na banca portuguesa aumentou para 3,1% no primeiro trimestre deste ano, período em que o risco de incumprimento entre as famílias também cresceu.

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Mário Centeno, governador do Banco de Portugal LUSA/MÁRIO CRUZ
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A proporção de crédito malparado na banca nacional aumentou ligeiramente durante o primeiro trimestre deste ano, um movimento explicado pelo agravamento deste indicador no segmento de particulares, numa altura marcada pela subida acentuada das taxas de juro, em que o risco de incumprimento no crédito das famílias está a aumentar. Em sentido contrário, a banca vê a rendibilidade aumentar a ritmo acelerado, graças ao impacto positivo que a subida das taxas de juro tem tido sobre a margem financeira das instituições de crédito.

Os dados foram divulgados no mais recente relatório trimestral do Sistema Bancário Português, relativo ao primeiro trimestre deste ano e publicado nesta quinta-feira pelo Banco de Portugal (BdP).

De acordo com o relatório, o rácio de NPL (sigla para "non-performing loans", indicador utilizado para medir o peso do crédito malparado sobre a carteira de crédito total dos bancos) do conjunto da banca portuguesa fixou-se em 3,1% no final de Março, um aumento de 0,1 pontos percentuais em relação ao último trimestre do ano passado, "reflectindo a diminuição dos empréstimos produtivos". Mesmo assim, este rácio mantém-se abaixo daquele que era registado no primeiro trimestre do ano passado, de 3,6%.

Já o rácio de NPL líquido de imparidades (ou seja, excluindo deste rácio a parte do crédito malparado que já está coberta pelo dinheiro que os bancos põem de lado precisamente para esse efeito e que, portanto, são perdas já reconhecidas no balanço dos bancos) manteve-se em 1,3% no primeiro trimestre de 2023, o mesmo valor que se registava no final do ano passado e abaixo do rácio de 1,7% que se registava em Março de 2022.

A contribuir para este ligeiro aumento do crédito malparado, mostram ainda os dados do BdP, esteve o segmento de particulares, onde o rácio de NPL aumentou em 0,1 pontos percentuais no primeiro trimestre, para 2,4%.

Há, ainda, um outro dado relativo às famílias que pode levantar preocupações: os créditos que passaram para o segundo estádio (ou "stage 2", na designação utilizada na banca) da classificação de risco, ou seja, a classificação que é atribuída aos contratos cujo risco de crédito aumentou significativamente desde o início da contratação, mas para os quais ainda não existe evidência de que venha a existir uma perda associada.

No primeiro trimestre, o rácio de empréstimos em "stage" 2 no segmento de particulares era de 9%, mais 0,8 pontos percentuais do que no final do ano passado. Considerando apenas o segmento de crédito à habitação, este rácio é de 8,4% (uma subida de um ponto percentual), enquanto no crédito ao consumo e para outros fins já é de 11,1% (um aumento de 0,3 pontos percentuais).

Esta evolução é registada numa altura em que a subida das taxas de juro tem feito encarecer, de forma significativa, as prestações de crédito à habitação, obrigando várias famílias a recorrer aos apoios que têm sido lançados para dar resposta a este fenómeno, como o mecanismo de renegociação de créditos ou a bonificação temporária de uma parte dos juros do crédito.

Por outro lado, o rácio de crédito malparado no segmento de empresas diminuiu em 0,2 pontos percentuais, fixando-se em 6,3% no final de Março. Já o rácio de empréstimos em "stage" 2 entre as empresas diminuiu em 0,3 pontos percentuais, fixando-se em 15,8% no final de Março.

Rendibilidade dispara

Em sentido contrário ao do agravamento da qualidade da carteira de crédito, a banca viu a sua rendibilidade crescer a ritmo acelerado durante os primeiros três meses do ano.

No primeiro trimestre, a rendibilidade do capital próprio (ROE, na sigla em inglês) aumentou em 5,4 pontos percentuais e fixou-se em 13,9%. "A evolução da rendibilidade reflectiu, essencialmente, o aumento da margem financeira. Em sentido oposto, destaca-se o efeito dos aumentos das provisões e imparidades e dos custos operacionais", justifica o relatório do BdP.

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