Lukashenko diz que Putin queria “eliminar” Prigozhin durante a rebelião

Presidente bielorrusso afirma que foi ele a persuadir o líder russo a poupar o chefe do grupo Wagner. “Sugeri a Putin que não se apressasse”, disse Lukashenko.

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Lukashenko e Putin num encontro em Sochi, na Rússia, a 9 de Junho Reuters/SPUTNIK

O Presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, afirmou ter persuadido o Presidente russo, Vladimir Putin, a não “eliminar” o líder do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, em resposta ao que o Kremlin considerou uma rebelião que empurrou a Rússia para uma potencial guerra civil.

Putin prometeu, inicialmente, esmagar o motim, comparando-o aos tumultos que deram origem à revolução de 1917 e, posteriormente, a uma guerra civil, mas horas mais tarde foi alcançado um acordo que permitiu a Prigozhin (Prigojin, na transliteração portuguesa) e a alguns dos seus combatentes irem para a Bielorrússia.

Prigozhin viajou da Rússia para a Bielorrússia na terça-feira.

Ao descrever a sua conversa de sábado com Putin, Lukashenko utilizou a gíria criminal russa para matar alguém, equivalente à expressão “eliminar”.

“Também compreendi: foi tomada uma decisão brutal (e foi esse o tom do discurso de Putin) para eliminar” os amotinados, disse Lukashenko num encontro com oficiais do exército e jornalistas na terça-feira, de acordo com a imprensa estatal bielorrussa.

“Sugeri a Putin que não se apressasse. ‘Vamos’, disse eu, ‘vamos falar com Prigozhin, com os seus comandantes’. Ao que ele me disse: ‘Ouve, Sasha, é inútil. Ele nem sequer pega no telefone, não quer falar com ninguém’”, prosseguiu Lukashenko.

Em 1999, Putin utilizou o mesmo verbo russo a propósito dos militantes tchetchenos, prometendo “eliminá-los no seu pardieiro”, uma declaração que passou a ser amplamente citada como exemplo da sua personalidade.

O Kremlin não fez qualquer comentário imediato sobre as declarações de Lukashenko, que dão uma visão rara das conversas no interior do Kremlin, numa altura em que a Rússia, segundo o próprio Putin, caminhava para uma turbulência que não se via há décadas.

Lukashenko, velho conhecido de Prigozhin e aliado próximo de Putin, disse que aconselhou o Presidente russo a pensar “para além do nosso nariz” e que a eliminação de Prigozhin poderia levar a uma revolta generalizada dos seus combatentes.

O Presidente bielorrusso afirmou ainda que o seu exército poderá beneficiar da experiência das forças do grupo Wagner que, mediante o acordo estabelecido com o Kremlin, podem agora deslocar-se para a Bielorrússia.

“Esta é a unidade mais treinada do exército”, disse Lukashenko, segundo a agência estatal BelTA. “Quem é que vai contestar isso? Os meus militares também compreendem, não temos pessoas assim na Bielorrússia”.

Lukashenko disse depois aos militares bielorrussos que “as pessoas não compreendem que estamos a abordar esta questão de uma forma pragmática, eles [grupo Wagner] já passaram por isso, vão falar-nos do armamento, o que funcionou bem e o que funcionou mal".

Prigozhin interrompeu o que chamou de “marcha pela justiça” sobre Moscovo, que começou na cidade meridional de Rostov, a 200 quilómetros da capital, após a intervenção de Lukashenko.

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