Ucrânia aproveita “caos” e “fraqueza” da Rússia e avança na contra-ofensiva

Zelensky diz que a rebelião mostra que Putin já não é capaz de “mascarar a fraqueza e a estupidez do seu Governo”. Kiev anuncia sucesso em ofensiva na região de Donetsk.

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Soldado ucraniano na região de Donetsk Reuters/STRINGER
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Enquanto a Rússia e o mundo assistiam com incredulidade à rebelião de Yevgeny Prigozhin(Ievgueni Prigojin na versão portuguesa) e os mercenários do grupo Wagner se lançavam na sua “marcha da justiça” na direcção de Moscovo, Kiev anunciava uma ofensiva bem-sucedida em várias frentes na região de Donetsk e classificava os acontecimentos que se desenrolavam na Rússia como provas do “caos” e da “fraqueza a toda a escala” do regime russo.

“Durante muito tempo, a Rússia usou a propaganda para mascarar a sua fraqueza e a estupidez do seu Governo. E agora o caos é tanto que nenhuma mentira o pode esconder”, afirmou o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na sua conta no Twitter, logo após a confirmação das notícias que davam conta do motim orquestrado pelo líder do grupo mercenário.

“A fraqueza da Rússia é óbvia. Fraqueza em grande escala. E quanto mais a Rússia mantiver as suas tropas e mercenários na nossa terra, mais caos, dor e problemas terá para si mesma mais tarde. A Ucrânia é capaz de proteger a Europa da propagação do mal e do caos russos. Mantemos nossa resiliência, união e força”, continuou o Presidente ucraniano, acrescentando, sem fundamentar, que Vladimir Putin estaria provavelmente “escondido” num bunker longe de Moscovo.

O natural, se bem que contido, regozijo das autoridades ucranianas com o motim orquestrado por Prighozin era também visível nas palavras do ministro dos Negócios Estrangeiros.

“Para aqueles que disseram que a Rússia era forte demais para perder: vejam agora”, escreveu Dmitro Kuleba no Twitter, aproveitando para lançar um repto internacional a quem tem ainda dúvidas sobre o lado certo do conflito iniciado a 22 de Fevereiro do ano passado com a invasão russa da Ucrânia: “É hora de abandonar a falsa neutralidade e o medo de uma escalada; dêem à Ucrânia todas as armas necessárias; esqueçam a amizade ou os negócios com a Rússia. É hora de acabar com o mal que todos desprezavam mas tinham medo de destruir.”

Na manhã deste sábado, quando as notícias da insurreição de Prigozhin e a possibilidade de estar a acontecer uma guerra civil no país invasor começaram a circular por toda a Ucrânia, muitos ucranianos duvidaram da sua veracidade, até que começaram a ser partilhados online vídeos e imagens que mostravam os veículos blindados do grupo Wagner a cercar edifícios governamentais e militares na cidade de Rostov, no sul da Rússia, onde se situa o mais importante quartel-general no apoio à invasão da Ucrânia.

Sem que nada o fizesse prever, os ucranianos pareciam estar a ver um desejo antigo tornar-se realidade: um verdadeiro e visível conflito interno na Rússia, capaz de ameaçar o regime e ter implicações no curso da guerra.

“Os acontecimentos estão a desenvolver-se de acordo com o cenário sobre o qual falámos no ano passado”, disse Mykhailo Podolyak, principal conselheiro de Zelensky. “O início da contra-ofensiva ucraniana desestabilizou finalmente as elites russas, intensificando a divisão interna que surgiu após a derrota na Ucrânia. Hoje, na verdade, testemunhamos o início de uma guerra civil”, afirmou Podolyak.

“É um sinal do colapso do regime, cujo processo vai intensificar-se”, disse, por sua vez, Andrii Iusov, porta-voz do serviço de informações militares da Ucrânia.

Avanços ucranianos no Donetsk

Ao mesmo tempo que se desenrolava a rebelião de Prigozhin, depois interrompida com a mediação do Presidente bielorrusso, Alexander Lukashenko, as autoridades ucranianas anunciavam, sem que houvesse confirmação independente, o avanço das suas forças em vários pontos na região do Donetsk.

“O Grupo Este das Forças Armadas da Ucrânia lançou neste sábado uma ofensiva nas frentes de Oryhovo-Vasilivka, Bakhmut, Bohdanivka, Yagidne, Klishchiivka e Kurdiumivka que resultaram em avanços em todas essas direcções”, afirmou a vice-ministra da Defesa, Hanna Maliar, ao mesmo tempo que dava conta do “fracasso” dos ataques das forças russas nas direcções de Kupiansk, Limansk e Marinsk após “combates intensos”.

Por sua vez, Oleksandr Tarnavskiy, comandante das forças ucranianas na frente Sul, anunciava a libertação de uma área perto de Krasnohorivka, uma pequena cidade situada apenas a 15 quilómetros da capital da província de Donetsk e que estava sob controlo das forças separatistas apoiadas por Moscovo desde 2014.

“Para além do significado simbólico que tem para nós, este é um momento fundamental nos nossos avanços e um exemplo fulgurante de sucesso local”, vangloriou-se o porta-voz do Exército ucraniano na frente sul, Valerii Shershen.

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