Ferreira Leite, a economista a quem “faltaram os defeitos” para liderar um Governo

A antiga ministra das Finanças e líder do PSD foi homenageada pela Ordem dos Economistas.

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Manuela Ferreira Leite Miguel Manso
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Foi a primeira mulher a ocupar o lugar de ministra da Educação e de ministra das Finanças, e a primeira mulher a liderar um partido — o PSD. Manuela Ferreira Leite, 82 anos, não chegou a chefiar um Governo por ter perdido as legislativas de 2009 contra José Sócrates. Paulo Rangel, que foi líder parlamentar durante a sua liderança, disse ter encontrado agora a explicação na boca de um personagem de um dos livros de Agustina Bessa-Luís: “Tem as qualidades, faltam-lhe os defeitos”. A frase provocou uma gargalhada no auditório do ISEG onde decorreu, esta tarde, uma homenagem à economista.

Entre as dezenas de convidados contava-se o antigo Presidente da República, Cavaco Silva, que levou Ferreira Leite para a política, e vários antigos ministros do PSD como Leonor Beleza, Eduardo Catroga e Marques Guedes bem como o presidente da CGD, Paulo Macedo, e o ex-governador do Banco de Portugal Carlos Costa. O presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, chegou no fim da sessão.

O Presidente da República associou-se à homenagem, promovida pela Ordem dos Economistas, através de uma mensagem por vídeo onde elogiou “o percurso de vida dedicado à causa pública, à pátria”. Marcelo Rebelo de Sousa apontou a companheira de partido (foi sua vice-presidente durante a liderança) como uma “mulher de valor ímpar” e “sólida carreira”.

No discurso de homenagem à figura que o "continua a influenciar", Paulo Rangel destacou Ferreira Leite como “cultora da economia de mercado, da livre iniciativa e da economia social de mercado inspirada pelos valores cristãos”, aliada ao “constante combate a um Estado flácido” e a uma “constante preocupação com os mais vulneráveis”. “Nunca foi nem será uma liberal”, disse o actual vice-presidente do PSD, apontando como traços pessoais da antiga ministra a “aversão genética às luzes da ribalta”, o “rigor” e um menos conhecido — a “capacidade de se rir de si mesma”.

Na sua intervenção, Ferreira Leite não desapontou os que esperavam o “sentido de humor fino” de que falava Rangel: “Fartei-me de aprender, disse coisas sobre mim que eu não fazia a menor ideia.”

Para quem se formou no ISEG (em 1963) e veio “atrás da matemática que vive de números”, a economista deixou uma mensagem enigmática: “Constato que termino a minha vida profissional a desconfiar deles”. E incumbiu os economistas de “contrariar que se propaguem verdades enganosas” a que conduzem “números sem interpretações adequadas”.

No final da sessão, Cavaco Silva disse apenas aos jornalistas ser uma justa homenagem, lembrando que foi colega de Ferreira Leite no ISEG, na Fundação Gulbenkian e que depois trabalharam muitos anos juntos no Governo.

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