Rádio Renascença muda o horário do terço, pela primeira vez em meio século

A recitação do terço passará a ser emitida às 20h30, em vez das 18h30, como tem sido desde 1968. Na segunda-feira são introduzidas outras mudanças na grelha de programação da emissora católica.

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O terço é transmitido na Renascença desde 1953 Nuno Ferreira Santos/Arquivo
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O rosário é o programa há mais tempo no ar na rádio portuguesa, mas já dizia o ditado: mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. A recitação do terço na Rádio Renascença vai mudar de horário, deixando de ser transmitida em directo do Santuário de Fátima, às 18h30, para ser emitida às 20h30 de segunda a domingo. O antigo horário, justifica o director geral de produção, Pedro Leal, “já não se adaptava à vida das pessoas”.

É que o horário do terço era o mesmo desde 1968, ou seja, há 55 anos. “Se olharmos para os anos 60, a mulheres estavam em casa e o ciclo de produção a essa hora já tinha terminado”, recorda. Agora, o rosário passar a ser meditado mais tarde, “para melhor corresponder à vida que as pessoas têm hoje”, já que, às 18h30, a maioria dos ouvintes da Renascença — entre os 35 e 59 anos — ainda está a trabalhar ou a organizar as lides domésticas com os filhos.

Conscientes de que há um grande número de idosos a rezar o terço com a Renascença, decidiram manter-se “no mesmo quadrante horário”. Ou seja, não podia ser “demasiado tarde”, forçosamente “antes das telenovelas”, para não deixar “as pessoas divididas”, explica Pedro Leal.

Actualmente, “são 80 a 100 mil pessoas” a ouvir o terço, de todas as idades, apesar de o também director de informação reconhecer que “a população idosa é mais favorável ao terço”. A mudança de horário não trará desvantagens, mas permitirá aumentar o número de ouvintes, avalia. Também o facto de passar a ser transmitido em diferido, “não é um problema que se coloque”, desvaloriza.

Pela primeira vez, o terço passará a ser recitado também ao fim-de-semana — até agora, era transmitido apenas de segunda a sexta-feira. “Não há razão para que não haja ao sábado e domingo, responde melhor à vida”, defende Pedro Leal, lembrando que é nesses dias que os ouvintes têm mais tempo para despender.

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Matilde Fieschi

Apesar da mudança de horário, numa emissora católica, nunca esteve em cima da mesa deixar de transmitir o terço. “Não temos dúvidas quanto ao nosso propósito. O nosso espírito fundador está lá. Não queremos esconder isto”, sublinha. Ainda que não queiram "esconder", o objectivo é trazer “uma proposta que seja aliciante para todos”.

As Três da Manhã como motores da mudança

Esse caminho tem sido feito há vários anos, sobretudo com o impulso d’As Três da Manhã — o programa da manhã liderado por Ana Galvão, Inês Lopes Gonçalves e Joana Marques —, que fizeram “chegar a Renascença a novos públicos” e criaram “fidelidade e reconhecimento”. Pedro Leal insiste: “Tiveram a responsabilidade de fazer a desconstrução dos clichés atribuídos à Renascença.” É lá também que vai para o ar o podcast mais ouvido de Portugal, o Extremamente Desagradável.

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Joana Marques é autora do Extremamente Desagradável JOANA BOURGARD

O tom descontraído do programa — mantendo o rigor da informação da Renascença, que põe no ar noticiários há 50 anos — começou a contagiar a restante grelha da antena e há mais mudanças a partir da próxima segunda-feira, 5 de Junho. Entre as 10h e as 13h, entrará a animadora Teresa Oliveira, que vem trazer mais música, acompanhando os ouvintes em período laboral. Depois, até às 17h, estará Sónia Santos.

Ao final da tarde, a partir das 17h, há também um novo programa, que “cria uma continuidade entre a manhã e a tarde”. A Filipa Galrão e Daniel Leitão, que já estavam no ar neste horário, junta-se Renato Duarte. “Vão trazer algum humor, ironia, música e entretenimento. É um programa bem-disposto, sem puxar muito pelas pessoas, mas com grandes momentos de informação”, avança Pedro Leal.

Para o serão, entre as 21h e a 1h, a aposta é num “programa de autor”, o Hotel Califórnia de Paulino Coelho, que passa a ter uma versão diária, bem como uma rádio online em permanência para os amantes de música das décadas de 70, 80 e 90, do século passado. As mudanças vêm acompanhadas de uma campanha que vai encher as ruas do país, acrescenta o director.

Nos últimos cinco anos, a Renascença cresceu 38% em audiência acumulada de véspera, passando dos 4,7% para os 6,5%. “O crescimento teria sido maior se não tivéssemos perdido algumas pessoas. Mas não há mudanças sem perder”, reconhece. Contudo, declara, “uma rádio que se deixa envelhecer com a sua audiência, morre”.

Quaisquer que sejam as mudanças de agora ou do futuro, “ser católico não é um empecilho” e a promessa é manterem-se uma rádio “focada no seu alvo”. Quer o terço seja às 18h30 ou às 20h30.

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