EUA acusam grupo Wagner de fornecer mísseis aos paramilitares do Sudão

Violência no país africano arrasta-se há mês e meio e já levou centenas de milhares de pessoas a fugir de suas casas.

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O fumo depois de bombardeamentos na capital sudanesa, Cartum MOHAMED NURELDIN ABDALLAH/Reuters
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O Governo dos Estados Unidos acusa a milícia russa Wagner de estar a fornecer mísseis ao grupo paramilitar que está a combater contra o Exército do Sudão desde meados de Abril.

As Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) estarão a receber mísseis terra-ar do grupo liderado por Ievgueni Prigojin, “o que contribui para um conflito armado prolongado que apenas provoca ainda mais caos na região”, disse o Departamento do Tesouro norte-americano em comunicado.

Os Estados Unidos decidiram aplicar sanções ao responsável pelo grupo Wagner no Mali, Ivan Maslov, por alegadamente estar a usar aquele país africano como plataforma para comprar armas para a Rússia usar na Ucrânia.

De caminho, o Departamento do Tesouro confirma o envolvimento do grupo paramilitar na crise sudanesa, que já tinha sido adiantada à CNN em Abril por fontes diplomáticas e dos serviços secretos. Segundo a televisão, dois dias antes de as RSF pegarem em armas contra o Exército, um avião de transporte russo começou a fazer vários voos entre uma base aérea na Síria, onde a Rússia tem uma forte presença militar, e duas bases na Líbia que estão sob controlo de uma milícia apoiada pelo grupo Wagner, liderada por Khalifa Haftar.

A bordo estariam os tais mísseis, de acordo com fontes sudanesas citadas pela CNN. Tanto as RSF como o grupo Wagner negaram qualquer colaboração. “Deixem-me repetir mais uma vez: a empresa privada militar Wagner não está envolvida de maneira nenhuma no conflito sudanês”, chegou a dizer Ievgueni Prigojin no seu canal de Telegram oficial.

Os combates entre as RSF e o Exército do Sudão começaram devido a desentendimentos sobre a forma de integração dos homens desta milícia nas forças regulares. Ambas as forças estiveram do mesmo lado quando foi derrubado o ditador Omar al-Bashir em 2019, mas desde então tem crescido o clima de tensão.

As RSF são chefiadas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo e o Exército pelo general Abdel Fattah al-Burhan. Os dois têm ligações estreitas com Moscovo e particularmente com o grupo Wagner, que tem apoiado militarmente as Forças Armadas do país em troca da exploração do ouro sudanês.

O grupo de mercenários russos, que ganhou fama mundial pelo seu envolvimento na guerra da Ucrânia, tem uma forte presença em África, pelo menos na Líbia, no Sudão, em Madagáscar e na República Centro-Africana.

Desde 2021 que o Sudão está sem um Governo civil porque os militares afastaram o executivo de transição e impuseram o estado de emergência. O período de transição democrática devia terminar em 2024 com a celebração de eleições, mas o país parece mais encaminhado para uma guerra civil.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou na semana passada que mais de 259 mil pessoas fugiram do Sudão devido aos confrontos e que outras 843 mil se viram forçadas a abandonar as suas casas para outras partes do país. Estas somam-se às cerca de 3,8 milhões que já eram deslocadas internas. Estima-se que 25,7 milhões de pessoas necessitem de ajuda humanitária para sobreviver.

“A actual situação humanitária do Sudão é de longe a pior a que o país já assistiu”, declarou o ainda director da OIM, António Vitorino, em comunicado.

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