Um autocarro em São Paulo leva música e teatro a quem passa horas em transportes públicos

Mauricio, actor de 40 anos, conta que a ideia surgiu da sua experiência pessoal com um percurso diário de cinco horas. A viagem no autocarro do Toda Terça Festival é gratuita.

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Música e teatro "para todes", lê-se, no autocarro. Reuters/AMANDA PEROBELLI
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Música e teatro "para todes", lê-se, no autocarro. Reuters/AMANDA PEROBELLI

Num dos maiores terminais de autocarros urbanos da América Latina, no centro de São Paulo, Rerizenil de Paula Santos, 84 anos, espera por um autocarro decorado com luzes de néon e graffiti brilhantes, no meio da azáfama da hora de ponta.

É a décima vez que viaja neste projecto único, conhecido como centro cultural sobre rodas. O objectivo é levar arte e música à vida dos trabalhadores brasileiros.

O autocarro está equipado com iluminação e um sistema de som profissional e todas as terças-feiras os organizadores convidam novos artistas de música ou teatro. Os passageiros podem inscrever-se online ou apanhar o autocarro na rua, se houver lugar.

"O objectivo principal é tentar descentralizar e tornar o acesso às artes mais acessível", explica o organizador do projecto, Anderson Mauricio.

Reuters/AMANDA PEROBELLI
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"Temos principalmente pessoas da periferia que são marginalizadas em termos de acesso às artes, por isso este autocarro é uma espécie de ponte, para tentar promover a arte sem fronteiras", explica Mauricio, actor, na estação de autocarros do Parque Dom Pedro.

Mauricio, 40 anos, conta que a ideia surgiu da sua experiência pessoal com o percurso diário de cinco horas que fazia até à cidade, quando era estudante de Teatro. "Boa parte do meu tempo era passado dentro de um autocarro, nos transportes públicos. E foi aí que pensei, bem, o autocarro... é uma casa itinerante para as pessoas que vivem na periferia, e porque não um espaço cultural?"

O projecto, que recebeu fundos públicos, começou em 2019, mas o seu sucesso foi interrompido pela pandemia da covid-19.

Agora, pessoas de todas as idades e origens sentam-se lado a lado para a viagem gratuita. Paula Santos, jovens estudantes, passageiros de meia-idade e uma pessoa em situação de sem-abrigo embarcaram no dia da visita da agência de notícias Reuters.

"Quando se entra aqui, toda a gente se diverte e eu acho que é maravilhoso. Não podia ser mais bonito", disse Paula Santos.

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Rerizenil de Paula Santos, 84 anos, bate palmas durante o concerto no Toda Terça Festival Reuters/AMANDA PEROBELLI

Os espectadores na rua espreitavam pelas janelas, incrédulos, enquanto o autocarro fazia a sua viagem de uma hora pelo centro da cidade.

"Fiquei muito impressionado com a qualidade do som, com a estética de tudo", diz o músico Leve Venturoti, 24 anos, a bordo pela primeira vez. "Isto prova que, se tentarmos realmente chegar a pessoas de diferentes lugares, podemos efectivamente dar acesso a todos."

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