Ataques de Israel em Gaza matam 15 pessoas em menos de 24 horas

Dez civis entre os mortos no conflito que é, até agora, com a Jihad Islâmica. O Hamas prometeu retaliar – e Israel avisou que nesse caso, há a hipótese de assassinar o líder do movimento.

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Funeral de Khalil Bahatini e de Tareq Ezzedine HAITHAM IMAD/EPA
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Um ataque israelita na Faixa de Gaza deixou 13 mortos, incluindo três altos comandantes da Jihad Islâmica e vários civis, entre eles quatro mulheres e quatro crianças. Menos de 24 horas depois, um novo ataque deixou dois mortos. As acções levantaram o espectro de uma nova guerra na Faixa de Gaza, e tudo dependerá agora do que o Hamas fizer.

As autoridades israelitas previram um aumento de rockets vindos da Faixa de Gaza e puseram parte do Sul de Israel em estado de alerta, ordenando evacuações de alguns locais e apelando aos residentes para ficarem perto de abrigos. Foram ainda chamados reservistas.

O primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, disse ter dado instruções para que seja preparada uma campanha de defesa em várias frentes: “Não quer dizer que precisemos dela, mas se for preciso, estaremos preparados”, cita o diário Haaretz. Netanyahu apontou o dedo ao Irão, dizendo que é preciso impedir o arqui-inimigo de “criar mais frentes de terror contra nós”. Israel tem atacado alvos militares ligados ao Irão na Síria e no próprio Irão, sem reivindicar estas acções.

O que irá acontecer depende de o Hamas se manter como espectador no conflito ou se resolve participar, salientaram vários analistas. No ano passado, o movimento não entrou no conflito, deixando a Jihad Islâmica sozinha, num confronto mais curto se comparado ao de 2021 com o Hamas.

No site Axios, o jornalista Barak Ravid escreveu que ainda que Israel veja o Hamas como responsável por tudo o que acontece na Faixa de Gaza, por ser quem governa o território, a operação estava focada na Jihad Islâmica. E através de mediadores (os dois não têm contacto directo), o Estado hebraico sublinhou que a operação estava apenas centrada na Jihad Islâmica, e que o Exército não atacaria o Hamas se não fosse atacado primeiro.

Publicamente, o ministro da Infra-estrutura, Israel Katz, que faz parte do conselho de segurança do Governo, disse à rádio de Telavive 103 FM que os líderes do Hamas poderiam vir a ser alvo de assassínio caso o movimento atacasse Israel.

“A resposta palestiniana a este massacre não vai ser adiada”, reagiu a Jihad Islâmica. “As [brigadas] Al Quds [que pertencem ao movimento] e a resistência nunca irão recuar perante isto”. O movimento sublinhou que os ataques foram uma quebra, por parte de Israel, de um cessar-fogo acordado depois de ataques de parte a parte que se seguiram à morte, numa prisão israelita, de Khader Adnan, que estava em greve de fome.

Adnan, um membro da Jihad Islâmica de 45 anos, foi uma rara morte por greve de fome numa prisão israelita – as autoridades prisionais têm normalmente libertado ou suavizado as condições de detenção dos presos que recorrem a esse tipo de protesto. Por isso, Adnan foi classificado como “um ícone de luta e resistência para as próximas gerações” palestinianas, afirmou um líder da Fatah, no poder na Cisjordânia.

O Hamas respondeu ao ataque através do responsável do bureau político Khaled Meshaal, que denunciou “um crime traiçoeiro” que “vai receber uma resposta firme da resistência unificada”, dando a entender que o movimento participaria na resposta.

Já o líder do movimento, Ismail Haniyeh, que se tem dividido entre a Turquia e o Qatar, emitiu um comunicado a dizer que o assassínio de líderes não trará segurança à ocupação [Israel], mas, sim, mais resistência.”

O Exército de Israel disse, citado pela Reuters, que os ataques, que descreveu como sendo de precisão, envolveram 40 aviões. “Foi uma convergência de informação, timing e estado do tempo”. Segundo o balanço israelita, foram destruídos dez locais de produção de armas, incluindo rockets, e outro de cimento para uso nos túneis (que os movimentos usam para trazer contrabando do Egipto, contornando o bloqueio, ou para chegar a Israel e levar a cabo ataques ou raptar militares). Também foram atingidos complexos militares do movimento.

O Exército acrescentou que os responsáveis da Jihad mortos foram Khalil Bahatini, comandante no Norte da Faixa de Gaza (que Israel diz ter sido o responsável pelos disparos contra o país do mês passado, e que acusa de estar a preparar mais ataques), Jihad Ghanam, secretário do conselho militar da organização em Gaza, e Tareq Ezzedine, que Israel descreve como o encarregado de planear ataques da Jihad Islâmica na Cisjordânia.

Entre os civis mortos estava um vizinho de Ezzedine, um dentista que era conhecido por tratar gratuitamente famílias sem recursos, Jamal Khuswan, e ainda a sua mulher e um dos filhos, de 21 anos, diz a agência Reuters.

Nos últimos meses, tem sido no Norte da Cisjordânia que se têm concentrado as acções militares israelitas, com incursões em cidades como Jenin e Nablus, onde estão a surgir, além dos grupos armados tradicionalmente ligados a facções estabelecidas como a Jihad Islâmica ou o Hamas, grupos novos, de jovens, sem liderança centralizada e sem natureza religiosa.

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