“Portugal desperdiça todos os anos várias barragens do Alqueva” em fugas de água

Projecto para combater fugas de água está a ser desenvolvido em Coimbra. “Quando há uma fuga de água na rede, ela começa muito pequenina, como uma torneira a pingar”, explica o responsável.

Foto
As fugas de água podem ser uma mera torneira a pingar e ficar por detectar durante anos. Quando é detectada já os custos podem ser bem elevados PAULO RICCA

O FiberLoop, que começou como um projecto para o acelerador de partículas da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), desenvolve em Coimbra a aplicação da tecnologia ao combate às fugas de água na rede. O projecto teve o seu início quando Tiago Neves, formado em Engenharia Física na Universidade de Coimbra, foi para o CERN, na Suíça, onde realizou um doutoramento, com a proposta de criar uma tecnologia baseada em fibra ótica para detecção de temperatura e humidade no LHC (o maior acelerador de partículas do mundo).

"Há um departamento [do CERN] de transferência de tecnologia que ajuda pequenas ideias desenvolvidas dentro do CERN a criar um negócio. E surgiu a ideia de aplicar a tecnologia na detecção de fugas de água", contou à agência Lusa o engenheiro físico, que criou em 2021 a empresa Fibersight, sediada em Coimbra, a sua cidade.

Desde 2021, tem desenvolvido o projecto centrado nas fugas de água, Fiberloop, em parceria com outra empresa de Coimbra, a Loop Company, usando os recursos humanos daquela tecnológica para desenvolver o negócio.

De momento, está a decorrer um primeiro projecto-piloto com cerca de 100 metros de fibra ótica enterrados no solo, com um tubo com fugas de água, procurando validar a tecnologia em ambiente real.

Ainda este ano, Tiago Neves prevê avançar com um projecto piloto "em ambiente definitivo", tendo já tido reuniões com empresas municipais de água da região.

A pingar durante anos

Segundo o responsável do projecto, "quando há uma fuga de água na rede, ela começa muito pequenina, como uma torneira a pingar", que pode ficar por detectar durante vários anos, até gerar uma ruptura maior, altura em que os "custos associados à reparação já são muito elevados".

"Em média, na Europa, perde-se 30% da água injectada na rede. Portugal desperdiça todos os anos várias barragens do Alqueva em fugas. São 100 mil milhões de litros de água", realçou.

Com a aplicação de fibra ótica, é possível medir com precisão e identificar antecipadamente fugas, que podem ficar por detectar "durante 10, 20 ou 30 anos".

Para Tiago Neves, a tecnologia poderá aproveitar a instalação de tubagens novas, mas também pode recorrer a uma toupeira mecânica – tecnologia já muito utilizada pelas empresas de telecomunicações – para instalar fibra em zonas da rede que se considerem problemáticas.

"Para obras novas, os custos são desprezíveis face ao investimento global da obra. Quando começarmos a produzir fibra em escala, ficará a menos de um euro por metro", realçou.

O projecto é um dos 12 que participaram no Ineo Start, programa de aceleração de tecnologias e ideias de negócio do Instituto Pedro Nunes de Coimbra, e cujos resultados foram apresentados nesta sexta-feira a investidores e entidades regionais.

Em 2024, Tiago Neves espera que o projecto conheça o seu primeiro ano de crescimento, com captação de investimento externo, para em 2025 ter o produto pronto para ser lançado no mercado.

O ano de "2025 acaba por ser importante porque coincide até com algumas datas impostas pela Comissão Europeia em que os países são obrigados a reduzir as fugas de água", notou, vincando que o projecto poderá ter facilmente aplicação em toda a Europa.

Para além deste projecto, Tiago Neves prevê outras possíveis aplicações e projectos recorrendo à fibra ótica, como é o caso da agricultura, onde poderá ser possível monitorizar a humidade do solo e concentração de água para optimizar processos de rega.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários