Papa reuniu-se com o ex-número dois da Igreja russa, afastado por ser contra a guerra

Francisco e Hilarion Alfeyev, ex-chefe das relações exteriores da Igreja Ortodoxa Russa, estiveram à conversa em Budapeste.

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Em 2018, em entrevista ao PÚBLICO, Hilarion Alfeyev dizia que era preferível "trabalhar com o Estado em vez de simplesmente criticar o Estado" Nuno Ferreira Santos

O Papa Francisco reuniu-se este sábado à porta fechada, durante 20 minutos, em Budapeste, no seu segundo dia de visita à Hungria, com o metropolita Hilarion Alfeyev, o antigo número dois na hierarquia da Igreja Ortodoxa Russa, afastado por Cirilo por ser contra a invasão russa da Ucrânia.

Segundo a notícia avançada pelo gabinete de imprensa do Vaticano, Hilarion foi suspenso do cargo de chefe do Departamento de Relações Eclesiásticas Externas e substituído, em Junho de 2022, pelo metropolita Antonij Sevrjuk, por não apoiar a posição favorável à decisão do Presidente russo, Vladimir Putin, adoptada pelo patriarca da Igreja, Cirilo.

Hilarion tentou manter a porta aberta ao diálogo com outras Igrejas, nomeadamente com a Igreja Católica, mas acabou por pagar a factura da sua oposição à linha oficial da sua Igreja, tendo sido afastado e enviado para a capital húngara como representante da Igreja Ortodoxa Russa, a maior da comunidade ortodoxa oriental.

Numa altura em que as relações entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa Russa estão num dos seus níveis mais baixos, pelo apoio explícito de Cirilo à guerra na Ucrânia e, sobretudo, pelas declarações de Francisco a pedir ao patriarca russo para deixar de ser o “acólito” de Putin, o encontro entre o metropolita (equivalente a bispo) caído em desgraça e o chefe da Igreja Católica não ajudará a apaziguar os ânimos. Mesmo que o teor da conversa não tenha sido divulgado pelo Vaticano.

Com a sua atitude, Hilarion, de 59 anos, que era considerado o braço direito de Cirilo e um provável sucessor natural do actual patriarca, de 76 anos, acabou por prejudicar a sua carreira, a não ser que a linha oficial da Igreja Ortodoxa Russa venha a mudar nos próximos tempos.

Uma posição que contraria um pouco aquilo que o metropolita de Volokolamsk defendia, em 2018, numa entrevista ao PÚBLICO: “Muitas vezes perguntam-nos por que não criticamos o Estado. A minha resposta é que preferimos trabalhar com o Estado em vez de simplesmente criticar o Estado, preferimos encontrar-nos com as pessoas indicadas na administração do Estado, e apresentar a nossa posição. Em muitos casos a nossa posição é ouvida, mas não em todos.”

Teólogo, patrólogo, membro da elite eclesiástica russa mais refinada, Hilarion é compositor e autor de ensaios sobre a História da Igreja Russa, sendo o fundador da Escola Superior de Aspirantes e Doutores Cirilo e Metódio, destinada à formação superior dos teólogos russos. De onde também foi afastado e substituído pelo padre Maksim Kozlov, um teólogo muito conservador.

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