Desconfio dos que imaginam um mundo sem magia

A verdade é que a realidade é mágica, e o mistério, compatível com a razão e a ciência.

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"A fantasia não leva à loucura, muito pelo contrário" @designer.sandraf

Eu, Isabel Stilwell, de quase, quase, 63 anos confesso que acredito em fadas, no Pai Natal e, claro, no coelho da Páscoa até porque não tenho outra forma de explicar como é que, há dias, apareceu um ovo de chocolate na minha mochila (tão bem escondido que só dei por ele quando derreteu em cima do telemóvel).

E também acredito em pixies, porque bem os vi correr para dentro de um cogumelo que encontrei no meu último passeio, assustados certamente pelos meus passos.

Ana, há mais: desconfio daqueles que imaginam um mundo sem magia, como, pior, roubam aos filhos o direito à fantasia, temendo que fiquem alienados da realidade. Ou enlouqueçam. Mas a verdade é que a realidade é mágica, e o mistério, compatível com a razão e a ciência.

Tenho dito.


Querida Mãe,

Sugiro-lhe que passe a fazer suas as palavras do C. S. Lewis, o autor das Crónicas de Nárnia que a mãe nos leu alto, tal como os seus irmãos já lhe tinham lido a si. Lewis escreveu:

“Quando tinha dez anos, lia contos de fadas e teria sentido muita vergonha se me apanhassem com um livro daqueles nas mãos. Agora que tenho cinquenta, leio-os abertamente.
Quando me tornei adulto, arrumei as minhas infantilidades, entre elas o medo de ser tomado por criança e o desejo de parecer muito crescido.”

Aproveito, também, para sossegar os pais — a fantasia não leva à loucura, muito pelo contrário, é uma das nossas melhores armas para testarmos e simularmos emoções em ambientes seguros. Estudos mostram que as crianças que são expostas à fantasia, tornam-se mais criativas e mais capazes de pensar "fora da caixa".

Além do mais, parece-me que num mundo cada vez mais polarizado e a preto e branco, a magia e o mistério, os mundos paralelos, podem ajudar-nos a manter vivos os cinzentos, tão importantes para conservarmos o bom senso.

A fantasia torna o pensamento mais elástico, mais capaz de encontrar soluções e caminhos, por isso fico muito contente que a Maria Isabel Stilwell, aos quase, quase, 63 anos, ainda encontre pixies nos seus passeios.


O Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. E, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam.

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