Jornal espanhol Público suspende colaboração com Boaventura de Sousa Santos

Jornal espanhol decidiu suspender a coluna de opinião “Espelhos estranhos”, da autoria do investigador até se concluir a investigação.

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Boaventura de Sousa Santos era director emérito do CES desde 2019, agora suspenso SÉRGIO AZENHA

O jornal diário espanhol Público suspendeu a coluna de opinião que o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos tinha neste meio de comunicação por causa das denúncias de assédio e violência sexual conhecidas nos últimos dias.

"Depois de conhecer estas denúncias, o Público suspendeu a colaboração que mantinha com Sousa Santos até se concluir a investigação da universidade [de Coimbra]", escreveu o jornal digital, um dos meios de comunicação social de âmbito nacional de Espanha.

Num texto publicado no sábado com o título "Várias mulheres acusam o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos de assédio sexual durante quase uma década", o jornal noticia as denúncias conhecidas nos últimos dias, informa que a Universidade de Coimbra suspendeu o professor das suas funções e que o Publico decidiu suspender também a coluna de opinião "Espelhos estranhos", da autoria do investigador.

Também Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO) anunciou no sábado a suspensão todas as actividades programadas com Boaventura de Sousa Santos e apelou a uma "reflexão profunda em torno do assédio sexual nas instituições académicas".

O Núcleo de Alunos de Sociologia do Porto (NASP) tomou o mesmo procedimento e cancelou a palestra de Boaventura Sousa Santos agendada para 22 de Abril, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Num comunicado publicado no Facebook do NASP, o núcleo refere que "não participa nem subscreve cultura de cancelamento ou julgamentos em praça pública", mas perante o "risco de desvirtuar a tranquilidade necessária para a organização e fruição do evento", Sousa Santos não irá participar no evento. A conferência “Caminhos do Ensino da Sociologia em Portugal”, em que iria participar, será dada pelo professor João Teixeira Lopes, informam ainda os estudantes.

Na semana passada, foram tornadas públicas acusações de assédio sexual de três ex-investigadoras do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra a dois professores, Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins, que as negaram.

As três investigadoras que passaram pelo CES denunciaram situações de assédio e violência sexual por estes dois membros do centro de estudos, num capítulo do livro “Má conduta sexual na Academia - Para uma Ética de Cuidado na Universidade”, publicado pela editora internacional Routledge.

Após a publicação deste livro, outras mulheres acusaram também Boaventura de Sousa Santos de assédio e violência sexual.

Num comunicado divulgado na sexta-feira, Boaventura de Sousa Santos disse que decidiu afastar-se das actividades do CES, para que “a instituição possa fazer, com toda a independência que é necessária, as averiguações das informações apresentadas e dar consequência ao processo de apuração interna” através de uma comissão independente.

Também o próprio CES informou na sexta-feira que os investigadores estão “suspensos de todos os cargos que ocupavam” na instituição até ao apuramento das conclusões da comissão independente que vai averiguar as acusações.

Boaventura de Sousa Santos é director emérito do CES e coordenador científico do Observatório Permanente da Justiça Portuguesa daquela instituição, fazendo também parte da comissão permanente do conselho científico do centro de estudos.

Já Bruno Sena Martins, formado em Antropologia, é, de acordo com o ‘site’ do CES, co-coordenador do programa de doutoramento Direitos Humanos nas Sociedades Contemporâneas e docente no programa de doutoramento Pós-Colonialismos e Cidadania Global, tendo sido vice-presidente do conselho científico entre 2017 e 2019.

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