Boaventura de Sousa Santos diz que vai processar autoras das alegações de assédio

Director emérito do CES diz-se vítima de “uma difamação anónima, vergonhosa e vil”. Bruno Sena Martins, também envolvido nas denúncias, fala em “insinuações fantasiosas”.

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Boaventura de Sousa Santos foi orientador de uma das autoras das alegações de assédio, que acusa de “vingança” Enric Vives-Rubio

O director emérito do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, Boaventura de Sousa Santos, anunciou esta quarta-feira que vai processar as três antigas investigadoras daquele centro que assinaram um artigo numa revista científica britânica em que expõem casos de assédio moral e sexual dentro da instituição. Apesar de as autoras não incluírem quaisquer nomes no texto, o investigador de 82 anos reconheceu-se como visado.

No final de uma mensagem de correio electrónico endereçado a todos os investigadores do CES, e que também fez chegar à imprensa, intitulado “Diário de uma difamação – 1”, Boaventura de Sousa Santos anuncia que “independentemente dos procedimentos internos e judiciais que o CES vier a adoptar”, vai apresentar uma queixa-crime por difamação contra as autoras.

“Declaro-me disponível para dar todas as informações e prestar todos os esclarecimentos que me sejam pedidos, quer no âmbito do processo judicial, quer no âmbito dos processos internos, que o CES certamente vai pôr em movimento”, acrescenta.

Ao longo do texto, de seis páginas, Boaventura de Sousa Santos classifica o artigo como “uma difamação anónima, vergonhosa e vil”. O investigador critica ainda o facto de “toda a informação caluniosa” que o visa ser “anónima e assente em boatos”. “Não é oferecida nenhuma prova ou modo de chegar a ela.”

Em causa está o artigo The walls spoke when no one else would (“As paredes falaram quando mais ninguém o fez”), que é um dos capítulos de Sexual Misconduct in Academia (“Má conduta sexual na Academia”), uma publicação colectiva recentemente editada pela Routledge, editora britânica que é uma das mais conceituadas do mundo nas Ciências Sociais e Humanas. É assinado por Lieselotte Viaene, Catarina Laranjeiro e Miye Nadya Tom, três investigadoras que passaram por aquele centro de investigação.

O director emérito do CES diz nunca ter tido reuniões com duas das autoras (Tom e Laranjeiro). Foi supervisor do estágio Marie Curie, um programa europeu, de Viaene, a quem acusa de “miserável vingança institucional e pessoal”.

Boaventura de Sousa Santos acusa-a de “comportamento incorrecto e indisciplinado do ponto de vista institucional” enquanto foi investigadora do CES, resultando no seu despedimento com justa causa e na recusa de se posicionar como instituição de acolhimento num projecto que seria financiado pelo European Research Council.

“Insinuações fantasiosas

As investigadoras não identificam nenhum dos intervenientes pelo nome. Descrevem a sua experiência de “abandono institucional”, que teria como objectivo “preservar a reputação e o prestígio do centro de investigação e do seu Professor Estrela”. O “Professor Estrela” seria a peça-chave das “dinâmicas de poder” da instituição, juntamente com outras duas figuras: o “Aprendiz” e a “Watchwoman”. É sobre o “Aprendiz” que recai a acusação mais directa de “abuso sexual”.

Esta figura será Bruno Sena Martins que, em declarações à agência Lusa, também nega as acusações. "Quero deixar as declarações mais detalhadas para as instâncias próprias. Afirmo, no entanto, que o capítulo que incita ao linchamento público, agora em curso, contém gravosas mentiras e insinuações fantasiosas que ferem a minha dignidade e que atingem a minha reputação profissional", afirmou.

Em resposta a um contacto da agência Lusa, o investigador remeteu um email no qual dá conta que "os factos serão esclarecidos nas instâncias competentes", evidenciando que acredita que "a justiça será feita e que as mentiras serão cabalmente expostas".

"Num ambiente justicialista, qualquer que seja, é muito precário e doloroso qualquer exercício de contraditório. Quem acredita na democracia e na dignidade humana sabe que ela também cumpre pelo direito à defesa e ao devido processo", acrescentou.

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