Em defesa do Museu do Quartzo

Grande parte do equipamento interactivo e outras ofertas pedagógicas do Museu do Quartzo (em Viseu) deixaram de funcionar, perdendo, por isso, toda a capacidade de exercer a sua função mais básica.

O Museu do Quartzo, em Viseu, nasceu por proposta minha, em 1995, e total aceitação da autarquia, tendo sido inaugurado em Abril de 2012. Este museu é o único museu do mundo dedicado a uma única espécie mineral.

Ainda pequeno face ao que poderá ser no futuro, este museu está localizado no sítio de uma pedreira onde, de 1961 a 1968, se explorou o quartzo do mais volumoso e possante filão, de entre os muitos que atravessam o substrato geológico do nosso território.

O quartzo é a espécie mineral mais abundante à superfície da Terra. Na variedade microcristalina sílex, foi a primeira matéria-prima da sociedade humana. O quartzo é o mineral com o maior número de variedades e modos de ocorrência. O número de indústrias baseadas no quartzo é muito diversificado, com destaque para metalurgia do ferro, refractários e isoladores, porcelanas, faianças e azulejaria, óptica e fibra óptica, vidraria, cristalaria, química (com múltiplas derivadas), silicones, betão, plásticos e borrachas, joalharia e bijuteria, electrónica e relojoaria.

As reservas de quartzo, em Portugal, são suficientes para satisfazer todas as suas necessidades neste sector da indústria nacional.

O Museu do Quartzo foi concebido para se desenvolver em três fases.

Uma primeira fase, de âmbito local, visa servir as escolas da região e divulgar conhecimentos entre o cidadão comum. Para tal, começou por reunir uma representação significativa de exemplares desta espécie mineral (e suas variedades) e das suas múltiplas aplicações industriais e artísticas, a par de oficinas pedagógicas e de um conjunto de equipamentos interactivos adequados.

Esta fase está concluída e em curso desde a inauguração, em 2012. Este museu, que já serviu milhares de alunos das mais diversas escolas e universidades do país, para além do público anónimo, está a viver dias difíceis por falta de manutenção decorrente de dificuldades orçamentais da autarquia que, em boa hora, lhe deu nascimento. Grande parte do equipamento interactivo e outras ofertas pedagógicas deixaram de funcionar, perdendo, por isso, toda a capacidade de exercer a sua função mais básica.

Numa segunda fase, de âmbito nacional, aspira-se a uma colaboração activa com as universidades e as empresas interessadas no quartzo como matéria-prima nas mais variadas tecnologias. Aspira-se, ainda, ampliar o seu alcance através da transformação digital do museu, o que passa essencialmente pela criação de uma plataforma digital e pela geração de conteúdos bilingues. Uma vez criada, há que gizar um plano de acção, que, além de todos os impactos directos na comunidade educativa, cultural e académica em Portugal, abra uma forte vertente de comunicação internacional que, no campo do turismo cultural e científico, colocará Viseu no mapa de locais de interesse a visitar por uma vasta comunidade internacional de profissionais e amadores das ciências da Terra, acrescentando valor à já reconhecida oferta turística da região. Por dificuldades orçamentais, esta fase continua à espera de melhores dias.

Numa terceira fase, de âmbito internacional, na eventualidade de previsível sucesso deste embrião de saber, e se as entidades competentes (a autarquia e/ou o poder central) assim o entenderem e apoiarem, o Museu do Quartzo poderá e deverá evoluir para um Centro de Investigação Científica e Tecnológica, a nível internacional, em torno desta temática. Esta fase é, por si só, susceptível de atrair patrocínios por parte de grandes empresas interessadas na investigação científica e tecnológica do quartzo.

Poderá parecer utópica esta minha proposta, mas as muitas “batalhas” que travei e continuo a travar têm-me mostrado que a utopia é o motor que transforma os sonhos em realidade.

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