Inflação recua nos EUA, mas Fed ainda deve voltar a subir juros

Taxa de inflação homóloga nos EUA caiu em Março para o valor mais baixo em quase dois anos. A Reserva Federal, no entanto, ainda vê motivos para endurecer a sua política monetária.

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Jerome Powel, presidente da Reserva Federal norte-americana Reuters/KEVIN LAMARQUE

Com a ajuda decisiva dos combustíveis, os preços dos bens e serviços praticamente não subiram nos EUA durante o mês de Março, fazendo a taxa de inflação homóloga cair para o valor mais baixo desde Maio de 2021. Ainda assim, o regresso às subidas da inflação subjacente e a força ainda revelada pelo mercado de trabalho devem conduzir a que a Reserva Federal (Fed) volte a subir os juros no início de Maio.

De acordo com os dados publicados esta quarta-feira pelo Departamento do Trabalho norte-americano, a variação do índice de preços nos EUA durante o passado mês de Março foi de 0,1%, um abrandamento face aos 0,4% registados em Fevereiro. A variação face ao mês homólogo do ano passado (que tinha sido de subida de preços acentuada por causa dos impactos da guerra na Ucrânia) diminuiu de 6% em Fevereiro para 5% em Março.

Os resultados registados ficaram ligeiramente abaixo daquelas que eram as perspectivas dos analistas (5,2% para a inflação homóloga de acordo com os analistas inquiridos pela Reuters) e encontram como principal contributo para a descida a queda de 4,6% dos preços dos combustíveis durante o mês de Março. De igual modo, nos alimentos consumidos em casa registou-se uma queda de preços de 0,3%, a primeira descida deste indicador desde Setembro de 2020.

Este abrandamento das pressões inflacionistas em Março poderia fazer pensar que a Reserva Federal estivesse disponível – depois de ter trazido, desde Março do ano passado, as taxas de juro de um valor perto de zero para um intervalo entre 4,75% e 5% a dar por concluído o processo de endurecimento da sua política monetária.

No entanto, há várias razões para pensar que, na próxima reunião marcada para o início de Maio, os responsáveis da autoridade monetária dos EUA voltem a decidir-se por uma subida de taxas de juro, provavelmente de 0,25 pontos percentuais, tal como aconteceu no seu último encontro.

Em primeiro lugar, a taxa de inflação homóloga subjacente – que retira da análise os bens com maior volatilidade nos preços, como os combustíveis e os alimentos – subiu em Março, de 5,5% para 5,6%, algo que já não acontecia nos EUA há cinco meses. Isto mostra que a inflação, inicialmente impulsionada pelos combustíveis e os alimentos, se pode estar a instalar de forma permanente na generalidade dos bens e serviços, exigindo ao banco central uma acção ainda mais decisiva.

Depois, do lado dos salários, há ainda poucos sinais de que se esteja a registar um abrandamento no ritmo de subida, principalmente num cenário em que a taxa de desemprego se mantém a níveis historicamente baixos, tendo caído para 3,5% em Setembro. Se os salários continuarem a subir de forma rápida, a Fed pode ver nisso um sinal de que as expectativas de inflação mais elevada estão para ficar.

Por fim, em comparação com o ambiente que se vivia há algumas semanas, existe neste momento menos receio relativamente a uma crise no sistema financeiro que provoque um aperto na concessão de crédito que vá além daquilo que a Reserva Federal deseja.

Assiste-se neste momento ao mesmo tipo de debate na zona euro, onde o Banco Central Europeu tem também de decidir se continua ou não a subir as suas taxas de juro. No entanto, a Reserva Federal está já alguns passos à frente neste processo. A inflação já caiu dos 9,1% de Junho do ano passado para 5% em Março, quando na zona euro ainda está nos 6,9%, e as taxas de juro já foram elevadas em cinco pontos percentuais, ao passo que o BCE as subiu em 3,5 pontos percentuais.

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