Presidente do PS sugere que Costa peça “desculpas” a Marcelo e aos portugueses

Avaliando a conduta do ex-secretário de Estado Hugo Mendes como “perniciosa” e “estúpida”, Carlos César diz também que ao Governo “resta pedir desculpas ao Presidente e às pessoas em geral”.

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Primeiro-ministro António Costa com Carlos César, presidente do PS Rui Gaudencio

Carlos César recorreu nesta segunda-feira ao Facebook para abordar criticamente o comportamento “especialmente censurável” do antigo secretário de Estado Hugo Mendes, que não podendo ser demitido por António Costa, pois já não integra o Governo, devia levar o primeiro-ministro a “pedir desculpas ao Presidente [da República] e às pessoas em geral”.

O pedido de mudança de um voo regular da TAP como forma de agradar ao chefe de Estado integra-se num leque de comportamentos de Hugo Mendes que, para Carlos César, “não são aceitáveis”. “Revelam uma conduta perniciosa e, digo mesmo, estúpida”, diz o antigo presidente do Governo Regional dos Açores.

“Como socialista, que acredita no Governo em funções e no seu desempenho mesmo nas condições difíceis com que se tem confrontado, já que o membro do Governo já não o é, ou seja, que não é possível ele se demitir ou demiti-lo agora, só resta pedir desculpas ao Presidente e às pessoas em geral”, argumenta César.

Esta posição assumida pelo presidente socialista surge no mesmo dia em que, à Lusa, António Costa se referiu ao email em que Hugo Mendes pediu o adiamento de um voo da TAP à CEO da companhia aérea, garantindo que “não conhecia” essa comunicação. “E, se tivesse conhecido, teria obrigado o ministro [das Infra-Estruturas, Pedro Nuno Santos] a demiti-lo, na hora”, vincou, considerando o conteúdo do mesmo “gravíssimo do ponto de vista da relação institucional com o Presidente da República e inadmissível no relacionamento que o Governo deve manter com as empresas públicas”.

Por entre elogios às políticas seguidas pelo actual executivo, Carlos César também tocou em dois assuntos que “ensombraram, nestes dias, a imagem do Governo”, desvalorizando ambos.

O primeiro prende-se com a reunião mantida entre a CEO da TAP e o grupo parlamentar do PS, bem como elementos do Governo. “Não sei quem sugeriu a reunião e não compreendo a importância disso. Mas a verdade é logo manipulada pelas circunstâncias e pelo embuste”, sustentou, garantindo que “nas legislaturas anteriores foram inúmeras essas ocasiões em que isso ocorreu, inclusive com partidos como os agora na oposição à esquerda do PS”.

Entretanto, o Bloco de Esquerda já veio desmentir esta afirmação de Carlos César. “O grupo parlamentar do Bloco de Esquerda não realiza, nem realizou, reuniões preparatórias de audições parlamentares com membros do Governo nem com pessoas exteriores ao Governo”, escreveu, no Twitter, Pedro Filipe Soares, líder parlamentar do BE.

“O segundo embuste é que” essa reunião “teria acontecido para condicionar o depoimento da CEO na comissão de inquérito”, prossegue César, frisando que tal encontro aconteceu “quando nem sequer estava aprovada a criação de uma comissão de inquérito e muito menos estava ainda em funcionamento”. A reunião aconteceu na véspera de uma audição parlamentar a Christine Ourmières-Widener, que, sendo uma audição realizada pelos deputados, não se integrava no âmbito da comissão de inquérito em curso.

O também ex-líder parlamentar do PS lamentou ainda o mediatismo de “alguns episódios colaterais” relacionados com a TAP, criticando a “grotesca omissão que se faz ou procura fazer do facto de a TAP ter dado lucro, antecipando esse objectivo que estava previsto no seu plano de reestruturação”. Ideia que permitiu a Carlos César recordar elogiosamente o papel desempenhado por Pedro Nuno Santos, que enquanto ministro das Infra-Estruturas teve a “gestão” e “tutela” da operadora aérea.

Por fim, o socialista deixou ainda uma alfinetada a Pedro Santana Lopes e a Marques Mendes. Tanto o primeiro, em entrevista ao PÚBLICO, como o segundo, no habitual espaço de comentário dominical na SIC, defenderam que a sucessão de casos no Governo a somar ao processo TAP seriam razões mais do que suficientes para dissolver o Parlamento.

“Santana Lopes, corroborado pelo comentador do PSD Marques Mendes, entre outros, relançou a ideia de demissão do Governo pelo Presidente da República, lembrando a sua demissão por Jorge Sampaio. Mas… não há quem o lembre que Santana era primeiro-ministro por procuração e não pela legitimidade de eleição? Não há quem os lembre de que o PS obteve há pouco mais de um ano 41% dos votos expressos e sensivelmente o mesmo número de votos do actual Presidente da República que, a esse respeito, foi claro na tomada de posse do Governo?”

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