Refugiado sírio eleito presidente da câmara em localidade alemã

Ryyan Alshebl chegou à Alemanha em 2015. No domingo foi eleito com maioria absoluta em Ostelsheim, em Baden-Württemberg.

Foto
Cartaz de campaha de Ryyan Alshebl DR

Ryyan Alshebl teve de tomar uma decisão quando fez 21 anos: continuar na Síria e ir fazer o serviço militar, o que significava fazer parte da guerra (combater pelo regime de Bashar al-Assad), ou sair do país.

Foi há oito anos, e a decisão que tomou foi sair da sua aldeia no Sul da Síria e “entrar no desconhecido: atravessou o mar Mediterrâneo numa fuga fria e escura, como descreve no seu site de campanha. “Casa, família, amigos, estudos e futuro. De repente, tudo o que se dá como adquirido desaparece.”

Acabou por chegar ao Sul da Alemanha. Como a esmagadora maioria das pessoas que chegaram nessa altura, Ryyan Alshebl fez um curso de alemão, e depois uma formação, em administração, que lhe permitiu trabalhar para a administração local na cidade de Althengstett, vizinha de Ostelsheim, depois de receber a cidadania alemã.

Agora, foi eleito presidente da câmara com uma maioria absoluta de 55,41% dos votos da localidade, que tem cerca de 2500 habitantes, no estado de Baden-Württemberg, no Sul da Alemanha, segundo a emissora Deutsche Welle.

Alshebl apresentou-se à eleição como independente, contra outros dois candidatos independentes, mas é membro do partido Os Verdes.

Na campanha apresentou um projecto de fazer de Ostelsheim uma localidade orientada para o futuro, com um foco na digitalização da administração pública, algo que sentiu que faltava da sua experiência de trabalho na administração local, diz ainda o seu site (o atraso na digitalização é um problema geral no país).

Também a criação de uma creche a funcionar o dia todo é uma prioridade para o novo responsável: desde a pandemia que esta possibilidade deixou de existir na localidade.

Reagindo ao resultado, Alshebl disse que a campanha foi “esmagadoramente positiva”, segundo a agência de notícias alemã DPA.

No ano em que Alshebl chegou à Alemanha, a então chanceler, Angela Merkel, cunhou o termo “Vamos conseguir”, “Wir schaffen das”, referindo-se à integração dos refugiados, a maioria da Síria, mas muitos também do Afeganistão, por exemplo.

Inicialmente acomodados em centros improvisados em ginásios e outras estruturas locais, muito apoiados por uma sociedade civil que por vezes se foi cansando, muitas vozes duvidavam que fosse possível integrar as pessoas com alguma rapidez.

Estes medos levaram ao crescimento do partido nacionalista xenófobo AfD (Alternativa para a Alemanha), que entrou no Parlamento nas eleições seguintes, em 2017.

Mas os dados das autoridades foram apontando para uma grande capacidade de os refugiados encontrarem emprego e suprirem falta de mão-de-obra.

Quanto a Alshelb, os media alemães apontam que é o primeiro presidente da câmara de origem síria do Sudoeste da Alemanha, e terá sido até o primeiro a concorrer no estado federado de Baden-Württemberg, segundo a revista Der Spiegel.

A reportagem da televisão pública SWR na noite da vitória mostrou o primeiro contacto de Alshelb: uma videochamada com a mãe, na Síria, para lhe dar a boa notícia (a sua família é drusa, ele não se considera religioso, explica ainda no site).

A sua eleição é um exemplo de “abertura e cosmopolitismo para toda a Alemanha”, declarou Alshelb, citado pelo site do diário britânico The Guardian.

À SWR, Alshelb acrescentou que Merkel estava certa quando disse o seu famoso “vamos conseguir”, sublinhando que ele não é o único exemplo de integração.

Sugerir correcção
Ler 10 comentários