Extensão dos danos patrimoniais do sismo na Síria e na Turquia ainda está por apurar

A guerra na Síria e as baixas temperaturas na Turquia estão a tornar difícil o trabalho daqueles que, no terreno, vão procurando identificar os museus, monumentos e sítios arqueológicos afectados.

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O Castelo de Gaziantep, na Turquia, está parcialmente destruído Reuters

Os terramotos que assolaram o Sul da Turquia e o Noroeste da Síria a 6 de Fevereiro, primeiro, e, 14 dias depois, a mesma região turca, saldaram-se na perda de dezenas de milhares de vítimas. Os números oficiais falam em mais de 50 mil baixas e em milhares de desaparecidos que são já dados como mortos. A esta catástrofe humana junta-se a destruição de inúmeros edifícios de valor histórico e cultural, muitos deles de cariz religioso, assim como de incontáveis sítios arqueológicos.

É ainda cedo para ter uma noção clara da dimensão das consequências no património turco e sírio. Com este segundo país em guerra, torna-se impossível confirmar no terreno os relatos que de lá chegam, e no caso do primeiro são as baixas temperaturas que não têm ajudado, tornando o acesso a alguns dos locais, extremamente remotos, muito difícil.

Para já, de acordo com a publicação The Art Newspaper, especializada em notícias do mundo da arte, sabe-se que, na Turquia, o Castelo de Gaziantep está parcialmente destruído, embora a gravidade dos danos varie de informação para informação.

Este monumento, que começou por ser uma fortaleza hitita fundada no segundo milénio antes de Cristo e assumiu, já no século II, um aspecto próximo do que tem hoje depois de convertida em castelo no período romano-bizantino, 300 anos antes da ampliação ditada pelo imperador Justiniano, aparece nalgumas fotografias apenas com a parte superior de um pequeno troço da muralha e dois dos seus oito torreões (bastiões) danificados. Noutras imagens, os estragos parecem ser bem mais extensos.

O Túmulo de Karakus, um monumento funerário com mais de dois mil anos composto por uma coluna encimada por uma águia, também é dado como destruído.

Noutros locais, como o complexo de Monte Nemrut, com as suas grandes esculturas e aquilo que os arqueólogos acreditam ser um túmulo real do I século a.C. que terá pertencido a Antíoco, os danos são ainda desconhecidos. Lugares como este, património mundial desde o final da década de 1980, estão entre as principais preocupações no que toca às consequências do sismo no património cultural turco.

Na província de Hatay, escreve ainda o Art Newspaper, também há monumentos destruídos. Na cidade de Antakya, a maior da região, com 200 mil habitantes, foram atingidos locais de oração de três religiões: a sinagoga, a mesquita de Habib i Neccar e a igreja cristã ortodoxa de S. Pedro e S. Paulo.

O museu arqueológico da cidade, no entanto, escapou ao sismo sem danos de maior, o que significa que a sua riquíssima colecção de mosaicos romanos permaneceu intacta. Nas proximidades fica a Igreja de S. Pedro, um dos templos mais antigos da cristandade, também ilesa.

A sul de Antakya, outros sítios de oração ligados a diferentes religiões não tiveram a mesma sorte. Também não há ainda informação fiável disponível quanto ao estado em que o terramoto deixou muitas das igrejas e conventos dispersos pelas regiões montanhosas. Entre eles está o Mosteiro de S. Simeão Estilista, o Novo, do século VI, e a igreja católica de Vakifli, a última aldeia arménia da Turquia.

Göbekli Tepe, um dos sítios arqueológicos mais famosos do país, não terá sido afectado pelo sismo, apesar de não ficar longe do seu epicentro. Resultando de uma ocupação humana que começou do décimo milénio a.C., é tido como um dos locais de culto mais antigos do mundo, embora a interpretação de muitas das estruturas arquitectónicas que o compõem esteja longe de ser consensual.

Quer nos monumentos e sítios arqueológicos, quer nos museus, o que preocupa agora os conservadores é a possibilidade de roubos. Com o fornecimento de energia comprometido, os sistemas de segurança falham com frequência. Além disso, e compreensivelmente, dada a situação de emergência em que se encontra mais de meio milhão de desalojados, o património não é prioridade.

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