Deslize do Deutsche Bank em bolsa renova receios sobre banca europeia

Os investidores estão a atribuir maior risco à dívida do Deutsche Bank, um comportamento que está a levar o banco alemão a derrapar em bolsa.

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O Deutsche Bank chegou a derrapar mais de 12% em bolsa na sessão desta sexta-feira EPA/FAZRY ISMAIL

Duas semanas depois da falência do norte-americano Silicon Valley Bank, que fez renascer os receios de uma nova crise financeira, os mercados continuam em tumulto. Esta sexta-feira, as bolsas europeias estão a registar quedas acentuadas, com a banca a cair para os níveis mais baixos em três meses. A arrastar o sector está o Deutsche Bank, que chegou a cair mais de 12% na sessão de sexta-feira, numa altura em que vê os investidores a atribuírem mais risco à sua dívida.

Esta sexta-feira, o Euro Stoxx 50, índice accionista que reúne as maiores cotadas europeias, chegou a desvalorizar quase 3%, acabando por encerrar com uma queda de 1,82%, enquanto o Euro Stoxx Banks, índice que conta com os maiores bancos cotados na Europa, esteve a derrapar mais de 6% e acabou por fechar a sessão com uma perda de 4,61%, caindo para mínimos de Dezembro do ano passado.

A justificar este desempenho esteve, sobretudo, o Deutsche Bank, que chegou a desvalorizar mais de 14% na sessão desta sexta-feira e acabou por encerrar a sessão a cair 8,5%, para os 8,54 euros por acção, o nível mais baixo desde Outubro do ano passado.

Na origem deste comportamento estão os chamados "credit default swaps" (CDS) do Deutsche Bank, produtos financeiros que funcionam como um contrato de seguro que protege os investidores contra o incumprimento de dívida por parte do emitente (no caso, o Deutsche Bank). Esta sexta-feira, os juros associados aos CDS relativos à dívida sénior do banco alemão, com maturidade a cinco anos, subiram para os níveis mais altos desde 2018, um movimento que reflecte o maior risco atribuído pelos investidores à dívida do Deutsche Bank.

É mais um golpe sobre o sector financeiro, que, no meio de eventos como a falência do Silicon Valley Bank ou a aquisição do Credit Suisse pelo UBS, tem procurado transmitir uma mensagem de tranquilidade, mas com efeitos limitados. Só este mês, o Deutsche Bank, maior banco da principal economia europeia, já perdeu um quarto do seu valor em bolsa, enquanto o índice que reúne os maiores bancos europeus continua a acumular quedas sucessivas.

Isto, enquanto os mercados aguardam para perceber se os casos do Silicon Valley Bank e do Credit Suisse foram episódios isolados ou se o risco de contágio ao sector como um todo é real, ao mesmo tempo que esperam pelas próximas decisões de política monetária por parte dos reguladores. "Ainda estamos à espera de que caia outra peça do dominó e o Deutsche Bank é, claramente, o próximo na mente de toda a gente (justa ou injustamente)", comenta um analista do IG Bank, em declarações à Reuters.

Mesmo assim, essa ainda não é uma ideia generalizada. "O Deutsche Bank teve os seus problemas com os reguladores, enfrentou volatilidade nos lucros e passou por um processo de reestruturação. Mas há uma diferença fundamental, que é o facto de o Deutsche Bank ter regressado à rentabilidade nos últimos trimestres, enquanto o Credit Suisse não tem sequer perspectivas de lucro para 2023", comenta um analista do Rabobank, também citado pela Reuters. "Não estamos preocupados com questões de liquidez por parte do Deutsche Bank", afirmam, por seu lado, os analistas do JP Morgan.

É essa, aliás, a mensagem que governos e reguladores têm procurado transmitir. "O sistema financeiro e a supervisão bancária europeia são robustos e estáveis. O Deutsche Bank modernizou-se, reorganizou fundamentalmente o seu modelo de negócio e dá lucro. Não há motivo de preocupação", sintetizou Olaf Scholz, chanceler alemão, no final da reunião do Conselho Europeu que decorreu esta sexta-feira.

Na mesma ocasião, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, disse considerar ser improvável que a zona euro entre numa crise financeira, já que o sector é hoje mais resiliente do que há uma década. "É muito improvável, se olharmos para a forma como as coisas estão organizadas na Europa", resumiu.

Já a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, também reforça a ideia de que o sistema está sólido. "O sector bancário da zona euro está robusto porque implementámos as reformas regulatórias acordadas internacionalmente após a última crise financeira global", disse Lagarde aos líderes europeus, voltando a frisar, como já tem feito nas últimas semanas, que o BCE tem as ferramentas necessárias para providenciar liquidez ao sistema bancário, se necessário.

Contudo, ao mesmo tempo, a presidente do BCE voltou a insistir que se conclua a há muito adiada união bancária, de forma a garantir maior protecção dos depósitos dos europeus. Em concreto, Lagarde referia-se à criação de um sistema europeu de garantia de depósitos, que viria fortalecer ou substituir os sistemas existentes a nível nacional (em Portugal, por exemplo, existe o Fundo de Garantia de Depósitos, que garante o dinheiro de cada depositante até 100 mil euros).

Notícia actualizada às 17h09 com informação sobre o fecho das bolsas.

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