Castelo de Downton Abbey sem casamentos e em apuros. A culpa é do “Brexit”

Os casamentos chegaram a representar 40% do negócio do Castelo de Highclere. Agora, só tem capacidade para cerimónias com 20 convidados por falta de funcionários.

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O Castelo de Highclere fica a 1h30 de Londres Reuters/HANNAH MCKAY
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A proprietária Fiona Carnarvon Reuters/HANNAH MCKAY
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Uma das salas da propriedade Reuters/HANNAH MCKAY
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O início da construção data do século XVII Reuters/HANNAH MCKAY

Este é um problema que o mordomo de Downton Abbey poderia ter compreendido. O Castelo de Highclere, no Sul de Inglaterra, onde foi filmada a série de sucesso sobre as vidas dos aristocratas e dos seus criados no início do século XX, está a enfrentar uma crise por escassez de funcionários.

A razão é a falta de mão-de-obra vinda da União Europeia, que forçou a proprietária, Fiona Carnarvon, a pôr de lado o principal negócio: os casamentos. "Deixámos de poder fazer casamentos de grandes dimensões devido ao 'Brexit'", lamenta a condessa, proprietária de Highclere com o marido, o 8.º conde de Carnarvon.

“Não há pessoal”, aponta, falando numa das salas do castelo vitoriano, que fica numa propriedade de cinco mil hectares. Por ano, costumava receber cerca de 25 casamentos com mais de cem convidados. Agora, só é possível acolher casamentos com cerca de 20 convidados, mas que representam uma fracção muito menor de um negócio que os empresários dizem poder custar vários milhares de libras por dia.

As receitas de outras partes do negócio de Highclere, como a loja de presentes — a casa abre ao público durante os meses de Verão —, também diminuíram, o que, segundo Carnarvon, reflecte não só o “Brexit”, mas também o impacte da covid-19 na hotelaria, sem esquecer a crise do custo de vida.

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A proprietária do castelo, Fiona Carnarvon HANNAH MCKAY/Reuters

Os desafios em termos de funcionários, em particular, ilustram os impactes do “Brexit” no mercado de trabalho britânico, três anos após a saída do Reino Unido da União Europeia, o seu principal parceiro comercial.

Grande parte da força de trabalho para os casamentos provinha de estudantes da UE que frequentavam a universidade em Inglaterra. “Quando vamos às nossas agências habituais e tentamos encontrar pessoas, não há ninguém”, queixa-se. “Se pedirmos dez, recebemos três.”

O número de estudantes da UE admitidos em universidades britânicas caiu 50% em 2021, e as candidaturas caíram 40%, em parte devido à incerteza criada pelo “Brexit”, de acordo com dados do serviço de admissões universitárias UCAS.

Desde que deixou a União Europeia, o Reino Unido tem enfrentado escassez de trabalhadores em áreas como o fabrico, construção e logística. Com o país ainda a apresentar taxas de emprego mais elevadas e menos desemprego do que a maioria dos países da UE, os grupos empresariais pressionam o governo a flexibilizar as regras de imigração pós-“Brexit”​.

O governo reagiu e flexibilizou as regras de elegibilidade para vistos de trabalho numa série de profissões, mas a lista não inclui o sector da hotelaria e restauração. O primeiro-ministro, Rishi Sunak, opôs-se aos apelos das empresas, lembrando que a saída da UE ajudou a trazer mais flexibilidade à regulamentação empresarial e a assegurar um “controlo adequado” das fronteiras do país.

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Uma das salas do castelo HANNAH MCKAY/REUTERS

Burocracias

Nos arredores do Castelo de Highclere, desenhados pelo arquitecto paisagista Capability Brown no século XVIII, dezenas de cadeiras e algumas mesas estão empilhadas, sem que lhes seja dado uso. Também não serão utilizadas durante a Primavera, uma vez que Highclere cancelou os chás da tarde que oferecia ao público, também devido à falta de pessoal.

A loja de lembranças parou ainda de enviar para países da UE — cerca de um terço do negócio global da loja — devido ao aumento dos custos de correio e da burocracia necessária, lamenta Carnarvon.

Outras trocas comerciais da propriedade, tais como a exportação de rações para cavalos, também diminuíram pelo mesmo motivo.“Estamos agora envoltos em burocracia em cada etapa do nosso negócio”, assevera.

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Castelo de Highclere HANNAH MCKAY/Reuters

A enfrentar a queda das receitas e uma inflação de dois dígitos, Highclere espera atingir o ponto de equilíbrio este ano, em comparação com os anos anteriores ao “Brexit” e à pandemia. Os casamentos chegaram a representar 40% do negócio global.

De certa forma, o que se passa no Castelo de Highclere reflecte a história de Downton Abbey, que retrata a perda de vários funcionários ao longo dos anos, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial, enquanto diminui a influência da aristocracia inglesa.

Mas, embora os casamentos sejam cada vez menos, Fiona Carnarvon está optimista quanto a novas receitas, tais como a venda de um gin de 35 libras (cerca de 40 euros), que diz estar a ganhar mercado nos Estados Unidos. “Está a começar, mas é um negócio que, utilizando a nossa marca, pode gerar receitas para nos apoiar, esperemos, no futuro”, termina.

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