Governo britânico anuncia 5,7 mil milhões de euros extra para despesas militares
Revisão da política externa e de Defesa do Reino Unido contempla reforço da Austrália com submarinos nucleares e reposição de stocks de armas. Cimeira do AUKUS realiza-se esta segunda-feira nos EUA.
O primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, anunciou esta segunda-feira um investimento extraordinário de cinco mil milhões de libras (5,7 mil milhões de euros) para o orçamento de Defesa do Reino Unido para os próximos dois anos e o aumento, a “longo prazo”, das despesas militares do país na ordem dos 2,5% do Produto Interno Bruto.
O anúncio acontece no dia em que o Governo conservador vai apresentar, no Parlamento, a mais recente revisão estratégica da sua política externa e de Defesa, e em que Sunak se encontra com o Presidente norte-americano, Joe Biden, e com o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, em San Diego, nos Estados Unidos, para revelarem os planos para a implementação do AUKUS, a parceria trilateral de segurança para o Indo-Pacífico.
Segundo o executivo britânico, a alocação de fundos para despesas militares, serve, precisamente, para ajudar a financiar o programa industrial e militar que visa reforçar a Austrália com submarinos movidos a energia nuclear – tudo indica que a nova frota australiana terá design britânico e tecnologia norte-americana.
Dos cinco mil milhões de libras, informou Downing Street, três serão alocados aos planos do AUKUS – um pacto securitário visto como uma ferramenta de contenção da República Popular da China na sua vizinhança alargada.
Os restantes dois mil milhões servirão para as Forças Armadas britânicas reporem os stocks de armamento e de munições fornecidas ao Exército da Ucrânia, para se defender da invasão russa do seu território.
“À medida que o mundo se torna mais volátil e que a competição entre Estados se torna mais intensa, o Reino Unido tem de estar pronto para se manter firme. Ao investirmos nas nossas Forças Armadas, estaremos preparados para os desafios do presente e do futuro”, justificou Sunak, citado num comunicado emitido do Governo britânico.
“O Reino Unido vai continuar a ser um dos principais contribuintes da NATO e um parceiro internacional de confiança, defendendo os seus valores desde a Ucrânia até aos mares do Sul do China”, acrescentou o primeiro-ministro tory.
Requisitada pela antecessora de Sunak, Liz Truss, para se actualizar o nível de ameaça representada pela Federação Russa à luz da agressão militar à Ucrânia, a Revisão Integrada de 2023 da política externa e de Defesa do Reino terá, no entanto, como grande ponto de interesse, a forma como o país se vai referir à China.
Em Novembro do ano passado, no seu primeiro grande discurso sobre o tema, Rishi Sunak disse que “era dourada” das relações entre Londres e Pequim – um termo utilizado em 2015 por David Cameron, ex-primeiro-ministro, e por George Osborne, ex-ministro das Finanças, para perspectivar o relacionamento bilateral para a década seguinte – “chegou ao fim”.
Ainda assim, não cedeu aos pedidos da facção mais nacionalista do Partido Conservador, que lhe exigiam que rotulasse a China como uma “ameaça” ao Reino Unido, explicando que “não se pode simplesmente ignorar a importância da China nas relações internacionais”, nomeadamente no que toca à “estabilidade da economia mundial” e às “alterações climáticas”.
Nesse sentido, e tal Sunak como deu a entender no domingo, o gigante asiático deverá manter o rótulo de “competidor sistémico” do Reino Unido, tal como definido na última revisão, de 2021, apresentada pelo antigo primeiro-ministro Boris Johnson.
O documento revisto vai ser revelado esta segunda-feira na Câmara dos Comuns do Parlamento britânico, em Londres, pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, James Cleverly, que não viajou com Sunak para San Diego.
Apesar de o Reino Unido estar a atravessar uma difícil crise económica e energética, é provável que os críticos do primeiro-ministro dentro do partido tory reajam com insatisfação ao investimento anunciado para a Defesa, por considerarem insuficiente face aos desafios geopolíticos existentes.
A promessa de aumento das despesas militares até 2,5% do PIB, sem prazo definido, fica, por exemplo, aquém dos 3% prometidos por Truss até 2030.