Porto: “O Eskada é o grande falhanço do regulamento da movida

Ruído e violência junto à discoteca no centro da cidade motivaram pedido de inclusão daquela zona no novo regulamento. Mas Câmara do Porto declinou. Moradores dizem-se “abandonados”.

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Discoteca fica na Rua da Alegria, no centro do Porto Paulo Pimenta

Quando o anúncio de revisão do regulamento da movida surgiu, um grupo de moradores das ruas da Alegria, D. João IV, Santa Catarina e Rampa da Escola Normal, no centro do Porto, reacenderam a esperança. Por medo de represálias optaram por não participar directamente no período de discussão pública, mas através dos vereadores socialistas relataram o seu drama e deixaram um pedido: incluir aquela zona, que sofre com o ruído provocado pela discoteca Eskada, no perímetro da movida. A Câmara do Porto entendeu não o fazer. E o “inferno” mantém-se por ali.

João R. tem dezenas de vídeos e fotografias capazes de fazer prova da sua versão. O último, desta segunda-feira, poucos dias depois de o novo regulamento ter entrado em vigor, mostra um grupo de pessoas a beber na rua da Alegria, em frente à discoteca Eskada, e música em altos decibéis – mesmo sendo gravado a partir da sua casa, com a janela fechada e a bons metros de distância. "Sentimo-nos abandonados."

O epicentro do problema é a discoteca aberta desde 2013 no centro da cidade. “O Eskada é o grande falhanço do regulamento da movida”, critica, lamentando a inacção da autarquia e das autoridades. “Se o objectivo do regulamento [da movida] é conciliar a vida dos moradores com a dos estabelecimentos, como é que é possível que uma discoteca abra todos os dias, tirando domingo, e feche às seis da manhã?

A zona é eminentemente residencial e as queixas repetem-se. João R. - o nome é fictício por medo de represálias – e os vizinhos ligam frequentemente para a Polícia Municipal e para a PSP, mas não sentem efeitos disso: “Uma atira as culpas para a outra e muitas vezes já nem atendem os telefonemas.”

Já depois da reportagem do PÚBLICO e de alguma mediatização do assunto, no início do ano, a carrinha que vendia cachorros quentes na rua, em frente à discoteca, desapareceu. “Estava ilegal”, garante João R. Mas, no essencial, o problema mantém-se. “As coisas continuam na mesma. Ruído, violência, vidros e garrafas na rua, muita gente alcoolizada, carros em contramão.”

Em Janeiro, a Câmara do Porto assumiu estar a par do problema, mas argumentou que o mesmo fugia, no essencial, da sua responsabilidade. A não inclusão daquela zona da cidade no regulamento tinha uma justificação: “O perímetro da movida, no que toca à gestão do ruído, tem razão num contexto em que as reclamações ou a concentração de estabelecimentos seja de tal modo densa, e a socialização no exterior seja de tal modo impactante, que impeça uma individualização de contributos com recurso a medição pelo laboratório municipal de ruído.”

Mas acrescentava que fazia sentido “procurar controlar de forma transversal e integrada as fontes amplificadas com limitador ou ajustar horários”. O PÚBLICO questionou o executivo de Rui Moreira: sabendo que a situação se mantém, pondera rever o horário? Teve, entretanto, algum contacto com moradores e proprietários do Eskada? A Câmara do Porto disse nada ter a acrescentar.

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