“A História vai responsabilizar Trump” pelo 6 de Janeiro, diz Mike Pence

O ex-vice-Presidente, que pondera ser candidato às primárias republicanas, fez as críticas mais duras a Trump desde que deixou o cargo.

Foto
Mike Pence e Nancy Pelosi na sessão plenária do Congresso de 6 de Janeiro de 2020 para certificar os resultados das eleições Reuters/POOL

O ex-vice-Presidente dos EUA, Mike Pence, teceu as críticas mais duras até à data ao ex-Presidente Donald Trump, este sábado, dizendo que a História irá julgá-lo pelo seu papel no ataque ao Capitólio de 6 de Janeiro de 2021.

Pence estava no Capitólio quando milhares de apoiantes de Trump invadiram o edifício para tentar impedir o Congresso de certificar os resultados das eleições presidenciais de 2020, que Trump tinha perdido para Joe Biden.

Como o vice-Presidente acumula a posição constitucional de presidente do Senado, Pence estava a levar a cabo aquela que sempre foi uma função cerimonial de aprovar os votos do Colégio Eleitoral que escolhe o Presidente e o vice-Presidente.

Durante o ataque, Trump publicou vários tweets, um dos quais apelando aos republicanos para “lutarem” e outros em que divulgou a tese falsa de que houve fraude eleitoral. Também criticou Pence por certificar os resultados.

“O Presidente Trump estava errado”, afirmou Pence durante um encontro com jornalistas no salão Gridiron, num evento formal anual em Washington. “Eu não tinha o direito de reverter a eleição, e as suas palavras puseram em perigo a minha família e todos os que estavam no Capitólio naquele dia, e sei que a História um dia irá responsabilizar Donald Trump”, acrescentou.

Pence, que está a ponderar ser candidato à nomeação do Partido Republicano para as eleições presidenciais de 2024, foi levado para um local seguro pelas forças de segurança durante o ataque.

Nos meses que se seguiram, Pence raramente abordou os acontecimentos de 6 de Janeiro, mas mais recentemente tem criticado os apoiantes que invadiram o Capitólio, tal como o antigo Presidente. Criticou duramente a conduta de Trump em entrevistas recentes e, num livro de memórias publicado em Novembro, acusou o ex-Presidente de ter posto em perigo a sua família.

Ainda assim, os comentários de Pence este sábado foram os mais duros até ao momento.

“O que aconteceu naquele dia foi uma desgraça. E seria indecente enquadrá-lo de qualquer outra forma”, afirmou. “Por mais tempo que viva, nunca, mas nunca irei rebaixar os ferimentos causados, as vidas perdidas ou o heroísmo das forças de segurança naquele dia trágico.”

Um porta-voz de Trump não respondeu aos pedidos de comentário às palavras de Pence.

A relação entre Trump e Pence tem sido complexa desde que ambos deixaram a Casa Branca. Pence criticou o comportamento do ex-Presidente, mas absteve-se de fazer críticas mais acutilantes. Também rejeitou cooperar com a comissão da Câmara dos Representantes que tem investigado o ataque ao Capitólio, dizendo que o trabalho levado a cabo pela entidade maioritariamente democrata é partidário.

Os comentários do ex-vice-Presidente no sábado mostram que está disponível para se distanciar cada vez mais de Trump à medida que a campanha para 2024 aquece, mesmo que isso signifique alienar milhões de eleitores republicanos que permanecem leais ao ex-Presidente.

Os comentários de Pence surgem poucos dias depois de o apresentador televisivo conservador Tucker Carlson ter divulgado vídeos de segurança do ataque ao Capitólio, dizendo que muitos dos invasores foram “ordeiros”. O retrato de Carlson dos acontecimentos de 6 de Janeiro foi altamente criticado pelos democratas e por figuras importantes do Partido Republicano no Senado, embora a maioria dos republicanos, sobretudo na Câmara dos Representantes, desvalorizem o episódio.

Sugerir correcção
Ler 2 comentários