Robert Blake (1933-2023): o actor de Baretta e A Sangue Frio

Ítalo-americano ficou conhecido em Hollywood como um “enfant terrible”, sendo que em 2001 foi acusado de assassinar a segunda mulher.

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Robert Blake em 2005 Jim Ruymen/Reuters

Morreu esta quinta-feira, aos 89 anos, o actor ítalo-americano Robert Blake, vítima de um problema cardíaco prolongado. Teve uma carreira longa, que, escreve o jornal The New York Times, foi “eclipsada” pelo julgamento sobre a morte da sua segunda mulher, Bonny Lee Bakley. Acusado de assassinato, Blake seria absolvido, mas, meses mais tarde, uma acção civil movida contra si por três filhos de Bonny Lee acabou com um júri a considerá-lo legalmente responsável pela morte e a obrigá-lo a pagar cerca de 30 milhões de dólares.

Nascido em Nova Jérsia, nos Estados Unidos, Blake começou a representar muito cedo. Entre 1939 e 1944, foi escolhido para entrar em diversas produções cómicas da série de curtas-metragens Our Gang, que durou entre 1922 e 1944, tendo portanto apanhado a transição do cinema mudo para o falado.

Em idade adulta, e após uma adolescência conturbada (foi expulso de cinco escolas, escreve o New York Times), destacou-se pela sua participação em A Sangue Frio (1967), filme de Richard Brooks baseado no livro homónimo de Truman Capote sobre os dois criminosos que, em 1959, mataram quatro elementos de uma família em Holcomb, no Kansas. Blake desempenhou o papel de Perry Edward Smith, um dos assassinos.

Anos mais tarde, numa entrevista concedida à Playboy e agora citada pelo The New York Times, o actor referiria que com este papel tentou explorar uma questão que o “incomodava”. “Todos sabem o que é um assassino um milionésimo de segundo após puxar o gatilho. Mas o que é que ele é um milionésimo de segundo antes?”

Entre 1975 e 1978, Blake foi o actor principal da série do canal ABC Baretta, protagonizando o personagem com o mesmo nome, um detective pouco ortodoxo que recorria a vários disfarces para apanhar criminosos e tinha uma cacatua de estimação. Tinha também várias frases feitas, uma das quais (“You can take that to the bank”, expressão usada para alguém dizer que algo vai, seguramente, acontecer) tornou-se conhecida.

Em 1997, Blake apareceu em Estrada Perdida, longa-metragem de David Lynch que inclui a última participação de Richard Pryor, influente actor e comediante afro-americano, numa produção cinematográfica. Foi também o último filme do próprio Blake.

A sua carreira inclui um leque muito vasto de participações em filmes e séries. O New York Times descreve-o como alguém que ficou conhecido em Hollywood como um “enfant terrible”. “Ele insultou produtores, deu um soco a um realizador, discutiu com outros actores, abusou de álcool e drogas e por vezes passava anos sem trabalho.”

Blake nunca mais trabalhou em cinema ou televisão depois da morte de Bonny Lee Bakley. A sua segunda mulher foi assassinada a tiro no dia 4 de Maio de 2001, em Los Angeles. Estava sentada no carro de Blake, que se encontrava estacionado à porta de um restaurante local.

Em Março de 2005, o actor foi absolvido. No entanto, três dos quatro filhos de Bonny Lee iniciaram uma acção civil contra o ítalo-americano após o julgamento (destes quatro, apenas uma filha tinha Blake como pai, e ela foi a única que não se envolveu neste procedimento, dado que na altura tinha apenas quatro anos).

Em Novembro do mesmo ano, um júri considerou Blake legalmente responsável pela morte de Blakey e ordenou que pagasse cerca de 30 milhões de dólares. O actor recorreu da decisão, mas apenas conseguiu que este valor fosse cortado para metade. No início de 2006, Blake entregou um pedido de insolvência.

Em 2021, o realizador Quentin Tarantino lançou o seu primeiro romance, Once Upon a Time in Hollywood, uma adaptação do seu filme homónimo estreado dois anos antes. O livro é parcialmente dedicado a Robert Blake. Um dos personagens da história de Tarantino, Cliff Booth (que no filme é interpretado por Brad Pitt), também é acusado de matar a sua mulher.

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